A hora da verdade
de Temer
Luis Nassif,
Jornal GGN
A Nova República termina com o golpe
do impeachment. Agora se está na fase de transição. A crise está se espalhando
pelos municípios, levando ao fechamento de postos de saúde e outras redes de
proteção social. As próximas etapas serão de aceleração aguda da crise
econômica e social, que levará a um desfecho rápido - que ainda não está no
radar.
Peça 1 - o aprofundamento rápido da
crise - Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
quebraram. Minas Gerais está a caminho, assim como o Paraná. Sem possibilidade
de emitir títulos, a crise resultará em inadimplência com fornecedores, atrasos
nos proventos dos funcionários, com a temperatura política subindo.
Haverá problemas inevitáveis na saúde
e segurança.
As consequências são óbvias: aumento
do desemprego, dos conflitos de rua, das disputas entre os donos do poder pelos
restos do orçamento. Tudo isso com o país sendo conduzido por uma junta governativa
suspeita de corrupção, conduzindo um ajuste fiscal suicida, com várias disputas
entre os poderes, e um presidente da República vacilante e de pequena
estatura política.
Pela rapidez com que a crise se
aprofunda, tudo indica um desfecho rápido, complicado, com desdobramentos
imprevisíveis.
Peça 2 – as armadilhas ideológicas - Mesmo os economistas ortodoxos mais sérios já se deram conta do desastre
que vêm pela frente. O próprio mercado começa a levantar aspectos que
impediriam a recuperação da economia - como o alto desemprego, o endividamento
de empresas, o nível de capacidade ociosa da economia, a perda de ímpeto das
exportações.
Apresentam como se fossem dados novos
da economia. Desde o início eram dados da realidade que foram sucessivamente desconsiderados
por Dilma-Joaquim Levy e Temer- Henrique Meirelles.
A marcha da insensatez prossegue por
dois motivos.
O primeiro, pela estratégia do lado
ideológico do mercado, que aposta na piora da economia como maneira de
pressionar o Congresso por reformas drásticas que aprofundarão mais a crise no
curto prazo..
O segundo, pela armadilha em que
mercado e mídia se meteram, ao bater diuturnamente na falsa saída do ajuste
fiscal rigoroso como maneira de recuperar a economia. Esse foi um dos motes
para a aprovação do impeachment. Como admitir que foi um enorme erro?
Peça 3 – as pré-condições para mudar
a política econômica - Em um ponto qualquer do futuro, vai
cair a ficha sobre a necessidade de um aumento substancial do gasto
público como única maneira de reativar a economia. A questão é saber a
profundidade do buraco que está sendo cavado. No limite, se terá um país
conflagrado.
Não se trata de tarefa fácil reverter
esse quadro. Choques de gastos ou reanimam o paciente, ou produzem
hiperinflação exigindo, por isso, não apenas competência técnica como
credibilidade política.. Há um conjunto de pré-condições, para que sejam bem
sucedidos.:
Condição 1 - Não podem incidir sobre as despesas permanentes.
Tem que ser focados em investimentos
em setores de rápida resposta. Não haverá como não fugir das grandes obras públicas.
E tem-se o setor destruído pelo trabalho da Lava Jato.
Quem se habilita a enfrentar a elite
do funcionalismo público, incluindo Judiciário e Ministério Público?
Condição 2 – terá que convencer a Lava Jato a atuar racionalmente, permitindo
reativar o setor de infraestrutura e a cadeia do petróleo e gás
Não será tarefa fácil.
Aqui no GGN fizemos o primeiro
alerta, através do comentarista André Araújo, sobre a falta de sentido da
Procuradoria Geral da República trocar informações com autoridades dos Estados
Unidos, visando processar uma empresa de controle estatal, a Petrobras..
Mostramos que, dias depois da volta
dos Estados Unidos, a Força-Tarefa investiu contra a Eletronuclear, depois da
visita do Procurador Geral Rodrigo Janot a uma advogado do Departamento de
Justiça que até um ano antes servirá ao maior escritório de advocacia que
assistia o setor eletronuclear norte-americano.
Ontem, na audiência da Lava Jato,
confirmou-se a parceria de delação firmado pelo Ministério Público Federal com
o FBI, visando instruir o processo contra a Petrobras nos Estados Unidos.
Em um ponto qualquer do futuro,
quando se recobrar a normalidade democrática - ou na hipótese de assumir alguma
liderança nacionalista de esquerda ou direita - Rodrigo Janot e seus
companheiros, mais a equipe da Lava Jato, responderão por crime de
traição ao país.
Agora, trata-se de encontrar a
maneira mais rápida de apagar o incêndio que se alastra.
Quem se habilita a enquadrar a Lava
Jato?
Condição 3 - Não pode conviver com o
atual nível de taxa de juros.
Nesse caso, a dívida pública sairia
definitivamente de controle.
Quem se habilita a enfrentar o
mercado?
Condição 4 – atacar o endividamento
circular das empresas.
Teria que se valer novamente dos
bancos públicos e do BNDES para permitir às empresas escapar da armadilha do
endividamento circular que volta a assombrar a economia.
Quem se habilita a enfrentar o senso
comum, de que qualquer forma de estímulo à economia pode ser criminalizado?
Condição 5 - teria que vir, simultaneamente, com uma desvalorização cambial,
para criar um novo foco de reativação da economia nas exportações.
Quem se habilita a enfrentar o choque
de preços com a desvalorização?
Peça 4 – as condições do governo
Temer - Olhamos as cinco condições e, agora,
nos debruçaremos rapidamente sobre o governo Temer.
Aspecto 1 – qualquer diretor indicado para o Banco do Brasil, BNDES, Caixa
Econômica Federal precisa passar pelo crivo do Ministro Eliseu Padilha, da Casa
Civil. Eliseu é acusado de uma série de crimes, de episódios quando era
Ministro dos Transportes a maracutaias em prefeituras do interior do Rio Grande
do Sul.
Aspecto 2 – as concessões e privatizações serão submetidas ao crivo de Moreira
Franco, lídimo representante do PMDB do Rio de Janeiro.
Aspecto 3 – todas as negociações de benesses à base aliada é garantida pelo
ínclito Geddel Vieira Lima.
Aspecto 4– à frente de todos um presidente incapaz de decidir até sobre a
situação de um Ministro apanhado em flagrante delito de corrupção.
Aspecto 5 – no Ministério das Relações Exteriores, um Ministro, José Serra, que,
para se transformar na Hillary Clinton brasileira, não se inibe de dar ao maior
comprador de produtos brasileiros, a Venezuela, um destino similar ao da Líbia.
Além de inundar o Senado com projetos de lei malcheirosos.
Aspecto 6 – no Banco Central, um presidente que, com a economia caminhando para
uma queda de 10% no PIB, aumenta a taxa real de juros. E uma mídia
absolutamente sem noção aplaudindo a imprudência.
Peça 5 – a inevitabilidade de um
pacto
O tempo político de Michel Temer é do
tamanho de sua dimensão pública: minúsculo. Acabou. A grande indagação é como
será a transição até 2018.
Não haverá como fugir a um pacto
amplo, mas não será por agora, com o país conflagrado depois que a Lava Jato
elegeu o direito penal do inimigo como instrumento de controle sobre a
política.
Nem Temer, nem quem vier a sucedê-lo,
terá condições de arbitrar tantos conflitos e sacrifícios se não vier
respaldado em uma ampla legitimidade conferida pela adesão dos diversos setores
a um pacto de salvação nacional.
A questão é o tempo que levará até
que a crise promova o acordo ou abra espaço para alguma liderança bonapartista.
O primeiro general que bater o
coturno em praça pública colocará todos esses golpistas para correr.
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Lamentável! Mesmo assim acreditar ainda é preciso, pois sem crença e esperança em algo, o homem se esvai.
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