Em momentos de crise profunda, unificar a bandeira de luta!
Nilson Vellazquez, em seu blog
A crise brasileira atinge grau cada vez mais agudo
no momento atual. O centro da crise política que atinge o Brasil parte do
princípio de que o impeachment não pacificaria o país como haviam prometido os
golpistas. Muito pelo contrário, ele conflagraria o país, e cada dia mais isso
está sendo comprovado.
A confusão é grande. E agrava-se mais ainda por uma
falta de saída estruturada pelas esquerdas, que, como sempre em momentos de
dificuldade, batem cabeça e brigam entre si pelo posto de vanguarda, como prova
de certificar suas teses e demarcar espaço dentro do mesmo campo, deixando de
falar para os milhões de brasileiros alheios aos detalhes da luta política
institucional, mas preocupados com seus empregos e com o futuro do país no
sentido mais geral.
A literatura marxista aponta que a luta pelo
socialismo é fruto das contradições intrínsecas do capitalismo (trabalho X
capital; produção social X apropriação privada; organização do trabalho X anarquia
da produção; proletariado X burguesia; imperialismo X povos explorados). Se por
um lado, há o consenso de que, no plano econômico é a contradição organização
do trabalho X anarquia da produção o maior fator gerador de crises - as
chamadas crises cíclicas do capitalismo; por outro, é necessário que tomemos
conhecimento de que a cada realidade dada, de cada país e cada momento, a
contradição principal de altera.
No Brasil, não em raros momentos, a contradição que
mais importância exerceu na luta política nacional esteve ligada à contradição
entre imperialismo e povos explorados. Foi essa contradição, entre
nacionalistas e entreguistas que moveu as principais lutas políticas do país,
com grande destaque para as lutas do período republicano, que culminou com o
suicídio de um presidente, a deposição de outro pelos militares - desaguando em
21 anos de ditadura militar - e o impeachment (golpe) da primeira presidenta
mulher da história do país.
É, pois, novamente essa contradição que se acentua
cada vez mais no Brasil. Todo o golpe, incluindo-se aí todos os aspectos dela -
desde a Lava-Jato, passando pela postura de Aécio Neves pós-eleição e as
posturas conspiratórias de Eduardo Cunha e Michel Temer - são obras do
exercício cotidiano que o império pratica em nosso país através de seus
agentes, de olho em nossas riquezas e nos destinos da 7ª maior economia do
mundo.
Perceber isso, parece, portanto, de extrema
necessidade para escolher em quais trincheiras atuar nesse momento confuso da
luta política no Brasil, pois os golpistas pretendem fazer uma certa varredura
da política nacional, quase um "começar do zero" e fazer o país
aprender a não votar mais na esquerda, como afirma Boaventura de Souza Santos,
utilizando-se dos mais variados agentes - principalmente os do judiciário - e
desprezando (ou utilizando quando necessário) outros, como Cunha e Temer.
Os episódios mais recentes revelam as contradições
das forças dirigentes do golpe e de quem, de fato, o executa. Quisera as forças
obscuras financeiras que o golpe fosse praticado por gente de mais confiança
sua - como Serra, Alckmin e FHC, por exemplo - mas o golpe caiu nas mãos de
gente como Cunha e Michel Temer, típicos batedores de carteira da política, sem
nenhuma confiança das suas forças dirigentes.
É, então, no seio dessas contradições, que as
forças progressistas devem buscar atuação, buscando acentuar ainda mais essas
contradições, dividindo sempre que possível o lado de lá e buscando, cada vez
mais, amplos setores com o mínimo de afinidades com os temas democracia e
soberania nacional, eis a chave.
Diante da cada vez mais nítida do judiciário
intervir na política - vide Sérgio Moro enviando notinha pela imprensa para
confundir o povo brasileiro acerca da famigerada "anistia" ao caixa
2, que, na prática, não existe- e os casos de corrupção, tráfico de influência
e crimes lesa-pátria cometidos pelos golpistas, chegou a hora de, mais uma vez
levantarmos a bandeira que possa unificar amplos setores da sociedade, em torno
da democracia e de um novo pacto nacional, que resgate os direitos sociais
garantidos em 88 e dê uma pausa no retrocesso a galope que os golpistas
praticam, é chegada a hora das Diretas Já, novamente; um grande movimento cívico
de homens e mulheres que lutam pelo Estado Democrático de Direito e pelo
Brasil. Chegou a hora! Diretas Já!
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