A política é
necessária!
Nilson Vellazquez,
em seu blog
Quando
eu era adolescente tinha uma banda. Achava que toda a minha rebeldia poderia
ser canalizada nas atitudes rock'n'roll e nas letras revoltadas que por ora
compunha. Naquele momento, Lula já era o presidente do Brasil, mas lembro-me
bem que o conjunto de minhas músicas dedicava-se a criticar o sistema de uma
maneira ampla e difusa. Foi, no entanto, alguns anos depois, através do
movimento estudantil e, posteriormente, através da vida partidária, que pude
canalizar a minha insatisfação e encontrar uma forma de luta organizada. Nesse
sentido, lamento profundamente que mais jovens como eu não tenham encontrado
ainda essa importante trincheira de luta social.
No
movimento estudantil e partidário é que pude identificar o valor da ação
política, ou simplesmente da tão alvejada e criticada "política". Foi
a partir daí que pude perceber o quanto ela influencia a vida de todos nós: o
preço do pão; do gás; da passagem; da gasolina; a novela que passa na TV; o
filme que cotidianamente importamos do cinema americano; a roupa que vestimos e
as nossas crenças. Quase uma epifania às avessas da célebre frase de Platão:
"não há nada de errado com os que não gostam de política, simplesmente
serão governados por aqueles que gostam". De lá pra cá, nos meus convívios
sociais, sempre escuto ser a pessoa que gosta de política, como se esse ato
dependesse da minha vontade, e não fosse uma condição inerente àqueles que
verdadeiramente querem justiça social.
No
período atual, uma crise se abate no mundo. Não são simples suas causas, muito
menos seus efeitos. Essa crise econômica do capitalismo, assim como tantas
outras crises cíclicas do sistema capitalista, destrói economias nacionais de
Estados que, de alguma forma, em algum dia, conduziram o desenvolvimento de sua
nação; desemprega milhões e milhões de trabalhadores pelo mundo todo; provoca
guerras e mortes e acaba com as soluções políticas que existem desde a antiguidade
clássica. Por ironia do destino, quis a banca internacional, em países como a
Grécia e a Itália, por exemplo, colocarem representantes diretos seus para
gerir os problemas da crise que eles mesmos geraram.
O
Brasil, também vítima dessa crise, sofreu as consequências mais profundas que
uma crise econômica pode gerar e, diante disso, sofremos um golpe parlamentar
e, mais do que isso, nos encaminhamos para um período ainda mais difícil de
nossa recente história - com perdas de direitos sociais e trabalhistas;
desemprego; congelamento de investimentos e o mais grave: seguimos o caminho do
abismo da negação da política, da execração pública do ato que, querendo ou
não, alguém irá fazer.
Se por
um lado, no Brasil, faltou uma educação das massas, que pudesse identificar, na
política e não necessariamente e unicamente no seu esforço próprio as causas da
melhoria de vida recente por que passaram; é verdade também que há uma
verdadeira ofensiva reacionária e conservadora das forças materialmente
dominantes, que impunham um pensamento único como solução para a vida de
trabalhadores que, sim, estão em dificuldades reais.
As
eleições municipais de 2016 no Brasil foram um grande exemplo dessa ofensiva
reacionária. Não foram poucos os momentos em que me peguei sendo totalmente
desprezado por jovens "descolados" na rua que se negavam a pegar um
panfleto com propostas que influenciam diretamente na sua vida; da
possibilidade de eleger um vereador cujo poder econômico não seja o decisivo
para sua eleição. Foi assustador o crescimento de candidatos
ultra-reacionários, com forte adesão popular. Mas o mais decepcionante; a
negação, pelos próprios políticos, da política; e isso, tanto os candidatos de
direita quanto os de esquerda. Se por um lado tínhamos um João Dória em São
Paulo dizendo que não era político, mas gestor; por outro, tínhamos um Marcelo
Freixo, do alto de sua arrogância e prepotência, afirmando que era diferente de
todos os que conhecemos.
Esta
semana, mais um triste episódio aconteceu. Dois ex-governadores do Rio de
Janeiro, que, longe de mim tentar inocentá-los, foram presos de maneira
desumana e completamente e desacordo com os direitos humanos e com o que
conhecemos por Estado Democrático de Direito. Mas o mais triste não é a prisão
em si, já que como muitos afirmam vários inocentes pobres são presos todos os
dias injustamente, e sim a comemoração que as pessoas fizeram diante do fato -
inclusive as ditas de esquerda -, legitimando o estado policialesco que se
instaurou no Brasil e a perseguição à atividade política que se implementa
atualmente no país. Isso, claro, passando ao longe para as pessoas comuns - e
também as de esquerda - que os verdadeiros agentes corruptores do sistema
capitalista, que é corrupto por natureza, já que se baseia na acumulação
privada de riqueza e usa o estado para tal, estão confortavelmente recebendo
seus lucros e dividendos dos juros que, no Brasil, são abusivos; isso sem
investir um centavo na produção e na geração de empregos.
Obviamente
o povo não é culpado. É a maior vítima de um sistema que, mais do que
sequestrar sua força de trabalho, sequestra sua ideologia e, sobretudo, suas
emoções. Como afirmou Domenico Losurdo em sua recente obra A Esquerda
Ausente, citando Gustave Le Bon, do final do século XIX: "para
influenciá-las (as massas) ou controlá-las devia-se apelar para os seus
'sentimentos', para aquilo que 'persuade', e assim provocar entusiasmo por
'ações heróicas evidentemente um pouco inconscientes' ou para 'quimeras, filhas
do inconsciente'. Não por acaso, nosso povo tem nutrido o medo à 'quimera' da
política e o entusiasmo por heróis togados cujos objetivos escusos de acabar
com a nossa economia estão longe de seu conhecimento.
É por
isso que não podemos nos afastar do exercício da política - em casa ou no
trabalho, no bar ou no estudo -: para que não deixemos que nossas emoções sejam
sequestradas pelas classes dominantes, façamos da vida pública - nos movimentos
sociais ou institucionais - uma trincheira real pela verdadeira justiça social,
para a qual, sem sombra de dúvidas, a política é e sempre será necessária.
Leia também: Walter Sorrentino e Rubem
Diniz: O novo ciclo político no Brasil e os seus desafios táticos http://migre.me/vx5IA
Nenhum comentário:
Postar um comentário