Memória viva
Luciano Siqueira
Ontem à
tarde, quase na mesma hora em que um grupo de militantes de ultra direita
invadiu a Câmara dos Deputados pedindo nova intervenção militar na cena política,
presenciei, em sentido diametralmente oposto, uma notável demonstração de
consciência democrática, na Escola Técnica Agamenon Magalhães-Etepam, no Recife,
através do projeto “Adote uma memória – construa nossa História”, coordenado
pela professora Analice Rocha.
O projeto,
segundo a página que mantém no Facebook, tem como objetivo
principal “promover o encontro entre a geração que está nas escolas hoje e as
gerações que militaram contra a ditadura. Através desse contato, os estudantes
escutarão as histórias vivenciadas pelos presos políticos e/ou seus familiares,
construirão um memorial e socializarão suas impressões acerca desse indelével
episódio histórico, como forma de gratidão a todos que contribuíram para a
conquista do espaço de liberdade atual.”
Isso professores e alunos vêm fazendo muito bem, há quatro
anos.
As
condições limitadas de produção não tiram um milímetro da beleza e do
extraordinário mérito que são a confecção de vídeos e a encenação teatral a
cargo dos alunos.
Emoção
a todo instante.
Jovens
adolescentes se descobrem pertencentes a um povo que tem história e faz a
História do Brasil.
Vivi a
emoção de ver encenados momentos da minha militância (ao lado de Luci) desde
quando muito jovem - da adolescência à clandestinidade e a prisão sob o regime
militar.
E vi igualmente
retratados momentos da vida e da luta de outros militantes ainda vivos ou
falecidos – o cacique Xucuru Xicão, a professora Vera Gomes, os médicos Manoel
Lisboa e Selma Bandeira, a advogada Mércia Albuquerque.
Não apenas
o registro de fatos vivenciados, uma vibrante afirmação de valores que
alimentam a militância nossa de cada dia.
No folheto
mimeografado distribuído aos presentes – platéia formada sobretudo por mais de
trezentos alunos -, a contextualização da investigação histórica como parte da
promoção e da defesa dos Direitos Humanos – seja pelo incentivo à pesquisa e à
produção textual, seja pelo incremento da discussão política e do sentimento de
pertencimento à vida pública.
Assim,
no âmbito de uma escola pública estadual, quase no anonimato, com precários
recursos, mas com muita determinação e entusiasmo, o projeto “Adote uma memória”
se afirma como um fortim da resistência à onda conservadora que hoje varre o
país.
Uma
experiência que vale disseminar no conjunto da rede pública, ao jeito dos
alunos e professores de cada escola.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
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