Tânia Bacelar: PEC 55 e a máquina brasileira de
produzir desigualdade
A PEC 55 (antiga 241)
é insustentável. Cedo ou tarde amplos setores da sociedade devem se unir aos
milhares de estudantes que ocupam escolas e universidades por todo o país para
barrar a agenda que ela propõe: manter um Estado que tira riqueza de quem não
tem para financiar quem não precisa. Se ainda não o fizeram é porque existe um
debate interditado no Brasil sobre as verdadeiras causas do déficit público e
de quem deve pagar a conta pelo ajuste.
Por Laércio Portela, Marco Zero Conteúdo –
reproduzido no Blog do Renato
O diagnóstico é de Tânia Bacelar, 73 anos, professora aposentada da
Universidade Federal de Pernambuco e uma das mais importantes economistas e
pesquisadoras do Brasil. Você não vai vê-la na tela da Globonews analisando a
conjuntura num programa de William Waack. Tânia não fala pra quem não sabe
ouvir. Ela está onde sempre esteve: confrontando o pensamento econômico
hegemônico no Brasil que só enxerga números e estatísticas e não vê gente.
Na sexta-feira (4), Tânia Bacelar levou seu
pensamento crítico ao clube Universitário, no campus da UFPE, para uma análise
dos impactos da PEC 55 sobre a educação e a saúde. A PEC congela por 20 anos os
gastos sociais do governo federal. A economista fez um histórico sobre o
processo de financeirização do mundo e do Brasil e tirou o véu que esconde as
verdadeiras causas do desequilíbrio das contas públicas. Ela não poupou nossas
elites políticas, empresariais e acadêmicas e seu ranço colonialista. “Não têm
um projeto de soberania nacional. Mas de submissão ao capital estrangeiro”.
A Marco Zero Conteúdo acompanhou a palestra de
Tânia e o debate que se seguiu com as mais de duzentas pessoas presentes ao
evento, entre professores, estudantes e funcionários da UFPE. Quatro centros do
campus estão ocupados por estudantes contra a PEC 55 e a reforma do Ensino
Médio. Com base nas falas da econmista, organizamos uma espécie de roteiro
econômico para ajudar o leitor a entender melhor como funciona a máquina da
desigualdade no Brasil e o que o governo Temer e seus aliados escondem dos
brasileiros para justificar o injustificável.
A
financeirização do mundo - A economia funciona em
duas esferas: a esfera produtiva e a esfera financeira. A esfera produtiva foi
muito dinâmica no pós Segundo Guerra. E o Brasil foi um dos países mais
dinâmicos do mundo neste período. Mas isso acabou nos anos 1980, quando a
esfera financeira passa a comandar a economia mundial. Sem o impulso produtivo,
fica cada vez mais difícil crescer. As grandes economias não crescem mais do
que 2%. O Brasil dos anos Lula e do primeiro mandato de Dilma foi uma das
exceções.
A
força do dinheiro que não gera emprego - Os
ativos financeiros circulando no mundo antes da crise 2008-2010 eram da ordem
de 860 trilhões de dólares. Já o PIB somado de todos os países (toda a riqueza
PRODUZIDA por esses países) estava na casa dos 60 trilhões de dólares, ou seja,
catorze vezes menos.
O
valor trabalho perdeu peso na vida econômica - Hoje você gera riqueza e valor sem passar pelo trabalho. Esse é o
caráter fundamental da financeirização. O valor trabalho perdeu peso relativo
na vida econômica. Para entender o que está acontecendo no Brasil é preciso ver
o que está acontecendo no mundo.
“Agora se pode ganhar bilhões com o dinheiro
certo, no lugar certo, na hora certa. Sem gerar um único emprego”.
No
Brasil, ao contrário de outros países, o sistema financeiro é oligopolizado - Mesmo com o processo mundial de financeirização há diferenças em como
os países adaptam suas economias a este sistema. O nosso sistema financeiro é
oligopolizado, controlado por poucos agentes. Na Alemanha e no Canadá o sistema
é descentralizado, a força não está concentrada nos grandes grupos econômicos.
No Brasil, o poder econômico (e político) de ganhar dinheiro, muito dinheiro,
sem gerar bens e empregos, está na mão de poucos, muito poucos. E eles
respondem pela alcunha de “mercado”.
“Se eu falar cinco nomes de bancos aqui do Brasil
vocês não vão lembrar os nomes dos outros”
Quem
cavou o buraco da dívida foram os juros altos e não os gastos sociais - O déficit fiscal no Brasil começa quando começa o processo de
financeirização da nossa economia. No pós-guerra, o Brasil sempre teve
superávit. E foi esse superávit que pagou o desenvolvimento do país nos anos de
Vargas, Juscelino e em boa parte do período do governo militar. Quem faliu o
Brasil não foi a crise do petróleo dos anos 70. Foi o aumento dos juros nos
anos 80.
Os Estados Unidos rompem com o acordo de
Breton-Woods e jogam os juros para cima. Pagávamos 8% e passamos a pagar 21%.
Deixamos de nos endividar para bancar o desenvolvimento da economia nacional e
passamos a nos endividar para pagar os juros da dívida.
Da
dívida externa para a dívida interna - O Brasil
engatou nessa dinâmica internacional da financeirização. O Brasil sempre
engata. Querem dizer que a gente não é importante. Mas nós somos importantes,
sim. Engatamos no comércio internacional no século XVI tocado pelas metrópoles
colonizadoras, engatamos no desenvolvimentismo do pós-guerra e engatamos, a
partir dos anos 80, na financeirização da economia.
O boom dos juros americanos derruba a economia
mexicana, que declara moratória. O capital internacional, com medo de que o
(gigante) Brasil seja o próximo, fecha a torneira de recursos para o país. O
governo então muda sua política. Ao invés de nos endividarmos externamente,
passamos a rolar uma dívida financeira interna, através da emissão de títulos.
Os aplicadores agora estão no Brasil (grandes bancos e empresas). Não dá para
decretarmos moratória porque o estouro vai acontecer aqui dentro e não fora do
país, como ocorreu no caso do México.
A
boa vida dos rentistas: a aliança do setor produtivo com o setor financeiro - O que é dívida interna? Ela surge quando o governo emite títulos. E
quem compra esses títulos? Os grandes bancos e as grandes empresas do setor
produtivo. Aí entra uma conta que o credor faz: vale mais a pena comprar mais
máquina e contratar pessoal para aumentar a produção (o que vai gerar emprego e
renda para os trabalhadores e o país) ou financiar o governo? Se os juros são
altos, nesta conta vai valer mais a pena financiar o governo. Esses são os
rentistas. Lucram muito, produzindo muito pouco. Ou nada.
A PEC 55 invisibiliza a participação das despesas financeiras no déficit do governo - Um governo possui despesas primárias e despesas financeiras. As despesas primárias são aquelas relacionadas ao pagamento de pessoal, custeio da máquina pública, transferências e investimentos. As despesas financeiras são aquelas para pagamento da dívida e dos juros da dívida pública. Lembre-se: dívida com os grandes bancos e as grandes empresas do setor produtivo.
A PEC 55 invisibiliza a participação das despesas financeiras no déficit do governo - Um governo possui despesas primárias e despesas financeiras. As despesas primárias são aquelas relacionadas ao pagamento de pessoal, custeio da máquina pública, transferências e investimentos. As despesas financeiras são aquelas para pagamento da dívida e dos juros da dívida pública. Lembre-se: dívida com os grandes bancos e as grandes empresas do setor produtivo.
Mas você não ouviu falar em propostas para reduzir
a despesa com o pagamento da dívida, ouviu? A PEC 55 só foca nos cortes e no
congelamento das despesas primárias e é aí que estão os gastos e investimentos
sociais em saúde e educação.
Quando
a economia vai bem, tudo vai bem. Quando vai mal, alguém tem que pagar a conta
- Quando a economia vai bem, o superávit primário
vai bem (o resultado positivo de todas as receitas e despesas do governo,
excetuando gastos com pagamento de juros). Foi assim durante os dois mandatos
do presidente Lula e quase todo o primeiro mandato da presidenta Dilma. Nossas
receitas foram maiores do que nossas despesas.
Tivemos superávit no Brasil até 2013. Em 2014 o
saldo ficou negativo em 0,4 e em 2015 em 1,8. Em resumo, quando a economia vai
mal (já ouviram falar na crise internacional, certo?) o superávit
também vai
mal. E isso significa que sobra menos recursos para o governo pagar os
rentistas (aqueles que não produzem bens nem empregos, mas ganham muito
dinheiro). Alguém tem que pagar essa conta, entende?
A
PEC 55 e a falácia de que a Constituição de 1988 inviabilizou o Brasil - Os defensores da PEC 55 dizem que o Brasil não cabe na Constituição de
1988, que a Constituição aumentou muito as despesas (direitos) sociais e o
Brasil não aguenta.
Mas não é verdade: Não houve explosão das despesas
primárias depois da Constituição de 1988. Para se ter uma ideia, os gastos com
o INSS cresceram apenas 1,3 ponto percentual em relação ao PIB entre 1999 e 2011.
Também foi de 1,3 ponto percentual o aumento registrado para a soma de todos os
demais gastos sociais. É claro que o PIB cresceu muito neste período, mas a
proporção gastos/PIB nem tanto. O comportamento da despesa financeira também se
manteve relativamente equilibrado enquanto o país crescia.
A PEC 55 e a falácia de que se reduzirmos os gastos sociais vamos reduzir a dívida - Os defensores da PEC 55 dizem que se reduzirmos as despesas primárias (pagamento de pessoal, custeio da máquina, transferências e investimentos em infraestrutura e sociais) vamos diminuir o déficit, emitir menos títulos e diminuir a dívida.
A PEC 55 e a falácia de que se reduzirmos os gastos sociais vamos reduzir a dívida - Os defensores da PEC 55 dizem que se reduzirmos as despesas primárias (pagamento de pessoal, custeio da máquina, transferências e investimentos em infraestrutura e sociais) vamos diminuir o déficit, emitir menos títulos e diminuir a dívida.
Não é verdade: O cerne do problema da dívida e do
déficit está no tamanho dos juros praticados no Brasil. E isso fica evidente a
partir de 2014, com o agravamento da crise econômica. Os juros nominais saltam
de R$ 311 bilhões em dezembro de 2014 para R$ 503 bilhões em dezembro de 2015.
Um aumento de R$ 191 bilhões. O equivalente a 8,5% do PIB.
No mesmo período, as despesas primárias (que o
governo Temer quer cortar com a PEC 55) passam de R$ 38 bilhões para R$ 111
bilhões, comprometendo 1,8% do PIB. As despesas primárias aumentaram R$ 78
bilhões, 49% do aumento registrado para as despesas financeiras (para pagamento
da dívida).
Fica claro que é o significativo aumento dos juros
que gera o aumento da relação dívida/PIB tão criticado pelos defensores da PEC
55.
Mas, por incrível que pareça, não está no debate
nacional a redução dos juros. E olhe que o Brasil é o país com o maior juros
real do mundo. Aqui os juros reais (descontada a inflação) estão em 3,5%. Em
todo o mundo só dois países chegam próximo ao índice do Brasil: a Rússia e a
Indonésia. Os demais têm taxas próximas de zero.
A
PEC 55 e a falácia da relação dívida/PIB e a confiança no governo - Os defensores da PEC 55 dizem que o custo do juros da dívida está
relacionado à solvência do governo (sua capacidade de honrar os compromissos
fiscais). Dizem que quando cresce muito a relação dívida/PIB o país fica sob
suspeita. Os credores não confiam e deixam de financiar o governo. Por isso os
juros têm que ser altos, para tornar os títulos atrativos aos credores
(rentistas, ok?).
Não é verdade: A relação dívida pública/PIB no
Brasil é de 66%. Para rolar esta dívida nós estamos pagando de juros 8,5% do PIB.
Um percentual e tanto de juros, hein? Pois bem, a relação dívida/PIB
do Canadá
é de 90%, bem maior do que a do Brasil, e eles só pagam 0,5% de juros para
rolar essa dívida. Na Alemanha, a relação dívida/PIB é de 70% e eles pagam 1,1%
de juros.
Os países que têm relação dívida pública/PIB bem
maior do que o Brasil estão pagando juros bem menores do que o nosso. O Brasil
é a exceção. Nós somos um ponto fora da curva. Remuneramos o capital financeiro
melhor do que qualquer país do mundo.
Mas esse tema também está fora do debate nacional.
Por que será? Para o governo Temer e seus aliados, o problema está nos gastos
socais do governo e no tamanho do Estado.
Por
que a PEC 55 é insustentável e vai mobilizar muitas forças contra ela - Não há como a sociedade brasileira suportar a PEC 55 por 20 anos. Ela
exclui os gastos sociais de toda a dinâmica da economia. Vamos tirar todo o
crescimento futuro da economia para pagar as despesas financeiras. No fundo,
estaremos tirando recursos dos mais pobres para pagar os bancos e as grandes
empresas. Simples assim.
Recentemente o senador Cristovam Buarque
justificou o voto a favor da PEC dizendo que agora veremos de fato quem apóia a
educação porque teremos que tirar recursos de outras áreas do governo para bancar
o setor. Mas essa é apenas mais uma falácia.
Das despesas primárias, 29% são gastos para pagar
a Previdência, 14% para pagar a Saúde e 14,8% para pagar a Educação (Básica e
Superior). Como se pode ver, a despesa do governo é muito concentrada em Previdência,
Saúde e Educação. Ou seja, sobra muito pouco de onde tirar. O corte vai ser na
carne. Ou então vai se esvaziar áreas estratégicas como os investimentos em
ciência, tecnologia e inovação. O quadro é insustentável. Nenhum país de mundo
realizou uma agenda tão radical de corte por tanto tempo. Tão danosa à
população de mais baixa renda.
A
pressão sobre a Saúde - Na Saúde, a dinâmica
demográfica vai pressionar o aumento de gastos. A melhoria da qualidade de vida
e a queda da natalidade estão envelhecendo a população brasileira. Teremos cada
vez menos crianças e adolescentes (menor pressão sobre gastos em educação) para
aumentarmos nossa população de idosos (pressão sobre os gastos com saúde). E
todos sabem que o custo para manter um idoso é maior do que o custo de uma
criança.
O gasto per capita do governo com saúde previsto
para 2016 é da ordem de R$ 519,00. Caso a PEC vigore por 20 anos, com um
crescimento estimado pelo IBGE de 10,1% para a população brasileira, o gasto
per capita deve cair para R$ 411,00 em 2036, segundo estudo realizado pelo
Ipea. No momento em que precisaremos de mais recursos, teremos menos dinheiro
para a Saúde.
A
ameaça da PEC 55 para a assistência social como política de Estado - Em 1988, o Brasil copiou o que havia de mais avançado em política no
país, o Sistema Único de Saúde (SUS), para formular sua política de assistência
social. A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) é baseada no SUS. A medida
incrementou o gasto público na cobertura econômica a um dos estratos sociais
mais vulneráveis da sociedade.
Uma conquista fundamental do processo de
redemocratização brasileira porque na assistência social você atinge
diretamente quem não trabalha: o exército industrial de reserva que não
trabalha. Ela beneficia com um salário mínimo mensal todo aquele que comprovar
ser portador de uma deficiência física, mental, intelectual ou sensorial de
longo prazo, que o impossibilita de participar de forma plena e efetiva na
sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas. Em outras palavras,
todos aqueles que têm dificuldades de servir como mão de obra ao capital. O
Brasil hoje dá cobertura a esses grupo. Um avanço extremamente significativo. O
congelamento de gastos que a PEC 55 propõe deve atingir em cheio essa política.
“Antes da Constituição de 1988 a assistência
social não era política pública. Era coisa de primeira-dama”.
O
Estado que tira de quem não tem para financiar quem não precisa - Não são apenas os rentistas e os grandes empresários beneficiados pelo
modelo do Estado brasileiro que o governo Temer quer aprofundar: tirar de quem
não tem para financiar quem mais precisa. A classe média também entra nessa
conta.
É necessário colocar no debate público as isenções
e deduções de impostos promovidos pelo Estado brasileiro. A maior delas é a do
Simples para micro e pequenas empresas, na ordem de R$ 74 bilhões.
Completamente justificável porque dinamiza a economia brasileira, gerando
empregos e renda.
A segunda são as isenções e deduções do imposto de
renda, no valor de R$ 39 bilhões. Aqui estão os gastos que a classe média faz
com os pagamentos da mensalidade dos seus filhos em escolas privadas e de seus
planos de saúde privados. Aqui também está a isenção de lucros para empresas,
que beneficia em grande parte profissionais de classe média como médicos,
advogados, economistas, engenheiros, jornalistas.
“Um Estado que financia quem não precisa e vai
cortar de quem precisa. O Estado é para financiar a classe média ou para
financiar um estudo de qualidade para a meninada que está nas favelas? Do jeito
que está montado, nosso sistema tributário é um modo de financiar a
desigualdade desde a base”.
Uma
elite com a herança do colonialismo e a serviço do capital estrangeiro - O que a história nos mostra – e o impeachment da ex-presidenta Dilma e
a ascensão do governo Temer confirmam – é que segmentos significativos da
classe política e empresarial brasileira não possuem um projeto de soberania
nacional. São submissos ao capital estrangeiro. Esta classe recebe o reforço da
grande mídia e de setores conservadores da Academia para fazer triunfar seu
modo de ver o mundo. Não é à toa que o governo de Getúlio Vargas sofreu tanta
resistência interna à sua agenda de construção da autonomia econômica nacional.
“A elite brasileira tem uma herança forte do
colonialismo. Herança cultural. Nossos políticos só espelham isso”.
Depois
da privatização, vivemos a desnacionalização do ensino superior brasileiro - O que está acontecendo com o ensino superior é um exemplo do
descompromisso da elite brasileira com a soberania nacional. A oferta no ensino
privado cresceu muito nos últimos anos. Três de cada quatro alunos estão na
iniciativa privada. E as grandes empresas e grupos internacionais estão
comprando essas universidades privadas. Grandes grupos financeiros internacionais.
Estamos vivendo uma preocupante desnacionalização do ensino privado superior no
Brasil.
Você não vê esse mesmo movimento em outros países
emergentes. Isso não está acontecendo na China, nem na Rússia, nem na África do
Sul. E nossa elite empresarial e nossa elite acadêmica estão dizendo o que
sobre isso? Nada. Afinal, este também não é um tema de debate nacional.
“Nossa elite se importa mais em negar o que a
gente é porque quer ser o que não somos. E o sistema educacional reproduz isso.
Educação tem que estar no centro das nossas preocupações.
A PEC 55 faz parte de um projeto maior de desmonte do Estado - O projeto que está embutido dentro do impeachment da presidenta Dilma é bem maior do que a PEC 55. A mudança do marco regulatório do pré-sal, por exemplo, é um capítulo fundamental desse processo. Eles sabiam que este era um ponto que Dilma não abriria mão. Um ponto inegociável para a ex-presidenta Dilma.
A PEC 55 faz parte de um projeto maior de desmonte do Estado - O projeto que está embutido dentro do impeachment da presidenta Dilma é bem maior do que a PEC 55. A mudança do marco regulatório do pré-sal, por exemplo, é um capítulo fundamental desse processo. Eles sabiam que este era um ponto que Dilma não abriria mão. Um ponto inegociável para a ex-presidenta Dilma.
“A verdade é que nossa elite empresarial apóia a
entrega do pré-sal para o capital estrangeiro. Falam que a Petrobrás não tem
condições agora de tocar todos os investimentos necessários para a exploração
do pré-sal. Mas por que essa pressa toda? Por que a urgência na votação de um
projeto tão relevante?
O
verdadeiro debate é sobre o Estado que a gente quer - Mais do que o debate sobre o déficit público, o debate que precisa ser
realizado hoje no Brasil é sobre o modelo de Estado que nós queremos. “Para
quem é que a gente quer o Estado Brasileiro? Esta deve ser nossa primeira
pergunta. A partir da resposta é que vamos discutir o déficit público”.
Exemplo do debate enviesado acontece na Reforma da
Previdência. Sempre se discute muito a questão da idade, a ampliação da idade
para a aposentadoria. Mas o mais grave é desindexar o salario mínimo do
reajuste da aposentadoria. Se isso ocorrer, mais uma vez a conta da reforma vai
ser paga pelos mais pobres. “Você vai depreciar a renda justamente na base mais
vulnerável da Previdência”.
A
luta pelos corações e as mentes dos brasileiros - Diante do quadro político atual uma reflexão se impõe: como fazer as
pessoas perceberem que elas melhoraram de vida nos últimos anos porque houve a
implantação de políticas públicas que construíram as condições para esses
avanços?
Muitos acham que suas vidas melhoraram por mérito
próprio. É claro que existe muito esforço individual envolvido na história da
ascensão social da última década no Brasil, mas a ampliação de políticas
públicas sociais foi a base que deu sustentação, facilitou e incentivou o sucesso
pessoal.
O fortalecimento do caráter social da política e a
relativização do determinismo da trajetória individual é um desafio que está
posto na disputa de narrativas. Não é preciso dizer o quanto esse tema é
central na mobilização da sociedade contra a PEC 55 e o quanto ele explica o
sucesso da invisibilização das reais causas do déficit público e seus
verdadeiros beneficiários.
Leia
também: As quatro mentiras da PEC 241 http://migre.me/vkayS
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