A crise brasileira passou de política
a institucional, como previsível
Janio de Freitas, Folha de S. Paulo
Sob uma situação de abalos políticos
sucessivos, em meio a condições econômicas ruinosas, os países não costumam
esperar por eleições ainda distantes para buscar a normalização, encontrem-na
ou não. Em política não há regras absolutas, mas há propensões historicamente
predominantes. É o caso.
O Brasil está no terceiro ano de uma
desconstrução que só tem encontrado estímulos, nenhum obstáculo. A crise passou
de política a institucional, como previsível. Quem apoiou o impeachment com a
ideia de que seria um fato isolado tem elementos agora para começar a
entendê-lo. O confronto protagonizado por Judiciário e Legislativo tem as
formas de divergências legais e vinditas mútuas, mas o seu fundo é institucional:
é disputa de poder.
Possibilitada pelo desaparecimento do
terceiro dos Poderes, nas circunstâncias em que uma institucionalidade legítima
(à parte o governo insatisfatório) foi substituída por um faz de conta.
Entre o Congresso e o governo Dilma, o
confronto foi por fins políticos. Entre o Judiciário e o Congresso, o confronto
é de poder sobre as instituições. Nisso, como está e para onde vai o
desaparecido Poder Executivo, o governo Temer? Em entrevista à Folha (1º.dez.), o ex-ministro
Joaquim Barbosa e suas vigorosas formulações referiram-se à atual
"Presidência sem legitimidade, unida a um Congresso com motivações
espúrias". A segunda pior conjunção, sendo a primeira a mesma coisa em
regime militar. Embora sem essa síntese de Joaquim Barbosa, o sentimento que se
propaga nos setores influentes a representa muito bem. A possível falta de
igual capacidade de formulação é suprida pelas dores das perdas e pelos temores
dos amanhãs sombrios.
Quando a imprensa, que auxilia Temer na
expectativa de uma política econômica à maneira do PSDB, libera notícias de
preocupação incipiente, aqui ou ali entre empresários, com a falta de medidas
recuperadoras, as reações já estão muito mais longe. "O que fazer?" é
uma pergunta constante. As referências a Temer e Henrique Meirelles não o são,
nas respostas especulativas sobre o que seria necessário para remendar a pane
econômica. Mas os vazios dos dois nomes preenchem-se com vários outros,
políticos para um lado, economistas para o outro.
Os sussurros e a cerimônia começam a
desaparecer, em favor da objetividade. É um estágio conhecido. Temer o conhece
como praticante, desde quando costurava com Aécio Neves a conspiração do
impeachment. Agora o conhece como alvo. Sem a companhia de Aécio. Aliás, parece
possível dizer, apenas, sem companhia: não faltam nem peemedebistas de alto
escalão, digamos, nas inquietações. Não é outro o motivo do chamado do atônito
Temer a Armínio Fraga, guru do neoliberalismo, e ao PSDB para se imiscuírem no
gabinete de Henrique Meirelles, cuja carta branca é cassada sem aviso prévio e
publicamente.
Daqui à sucessão normal são 25 meses.
Mais de três vezes os meses que desmoralizaram a propaganda sobre as maravilhas
do governo pós-impeachment, com Temer, Geddel, Moreira e outros. E o PSDB, com
três ministros, como avalista. São 25 meses em que o teto de gastos e a reforma
da Previdência, se chegarem à realidade, ainda não terão produzido mais do que
as conhecidas agitações ou, cabe presumir, convulsão mesmo. Mas certas pessoas
nem pensam mais nos meses que faltam. Ou faltariam.
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