Duas pedras no caminho
Luciano Siqueira
Na luta política, dois erros crassos são recorrentes: a leitura “voluntarista” da realidade e o desrespeito a opções discrepantes adotadas por aliados.
Luciano Siqueira
Na luta política, dois erros crassos são recorrentes: a leitura “voluntarista” da realidade e o desrespeito a opções discrepantes adotadas por aliados.
Em consequência,
ocorrem derrotas e se fragilizam as possibilidades de recuperação do terreno
perdido.
É o que acontece na
atual fase de vacas magras que atinge duramente as forças políticas de esquerda
e do campo progressista.
Ora, se sofremos
uma derrota histórica e de cunho estratégico — um ciclo de transformações que
durava 12 anos foi interrompido —, do que menos se precisa nesse instante é de
arroubos hegemonistas, bravatas e presunção de verdade absoluta.
A recomposição das
forças momentaneamente derrotadas há que acontecer no curso da resistência ao
golpe institucional e às políticas regressivas; e implica compreensão exata da
correlação de forças real e, portanto, percepção aguda do que é possível, no
sentido da acumulação de forças para uma contraofensiva futura.
É o que traduz a
aspiração a uma ampla frente de defesa da democracia, de direitos e conquistas
ameaçados e da retomada do crescimento econômico em bases soberanas, com
valorização do trabalho e inserção social.
Proposições e
“fórmulas” experimentadas na conjuntura anterior não cabem na realidade atual.
Forças que
exerceram, com méritos, papel destacado podem ou não cumprir desempenho semelhante
agora. É a roda da vida – e da luta política.
O fato é que, com o
impeachment da presidenta Dilma, um ciclo foi interrompido e outro ciclo, de
natureza diametralmente oposta tem lugar.
Compreender o que
se passa é indispensável. Abertura, flexibilidade e, sobretudo, respeito às
opiniões das demais correntes políticas do campo progressista são pressupostos
do bom diálogo, efetivamente produtivo.
Em nada ajuda a
postura de metralhadora giratória, destinada a atingir indiscriminadamente
adversários e aliados.
Muito menos ajuda
rotular este ou aquele partido, grupo ou personalidade. Vale a posição de cada
um em relação a agenda atual e, com base nela, a busca de pontos de
convergência que se superponham a divergências circunstanciais.
Às correntes
políticas de matiz popular cabe, nesse sentido, uma responsabilidade
estratégica, em razão do papel histórico que têm a cumprir.
E na História não
há registro de transformações sociais de envergadura sem a conjugação de forças
heterogêneas e sem alianças tão avançadas quanto possíveis.
Fora disso, resta a
inconsequência.
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