Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo, no portal Vermelho e no Blog do Renato
Aconteceu há uns poucos anos atrás.
Como de costume, oferto uma rosa vermelha às mulheres de casa e às que comigo
batalham no dia a dia, no ambiente de trabalho. Para marcar a data, densa em
significados, com afeto, cumplicidade e espírito guerreiro. Rosas vermelham
traduzem bem querer e luta.
Era dia de faxina doméstica. Ofertei
também uma rosa para ela, com um abraço fraterno e palavras de reconhecimento e
incentivo. Olhou-me com espanto. Balbuciou palavras que não conseguiu
pronunciar além de um tímido “muito obrigado” e afastou-se nervosa, o rosto em
lágrimas. Um choro abafado, contido. “- Vou completar cinquenta anos e é a
primeira vez que recebo uma rosa vermelha em toda a minha vida”, confidenciou
depois.
Foi como se ela se descobrisse de repente
alvo de um carinho jamais experimentado. Daquela forma, com aquelas palavras e
aquele gesto. Tal como acontece com milhões de marias mundo afora, vitimas do
desamor ou objeto de um querer apenas superficial, incompleto.
Através de gestos simples como aquele
ou de manifestações coletivas, o 8 de março há que ser um misto de comemoração
e combate. Comemoração pelas conquistas alcançadas em quatro décadas de impulso
da luta feminista, no Brasil e em outras terras. De combate renovado em busca
de novas conquistas, pois a luta é ingente e de longuíssimo curso. A
desigualdade de gênero está fincada em sólidas raízes históricas, econômicas e
culturais. A emancipação da mulher implica múltiplas trincheiras – nas relações
de trabalho, na vida social e política, no confronto de ideias.
Não basta o reconhecimento de que a
condição feminina impõe direitos específicos consignados na Constituição. Nem a
gama de políticas públicas traduzidas em programas de atenção à mulher, adotados
pelo poder público nas três instâncias federativas. É preciso fazer permear as
atividades protagonizadas pela mulher ou a ela destinadas pelo debate teórico e
político acerca da desigualdade de gênero – suas causas, suas manifestações
estruturais e cotidianas; e encontrar meios e modos de aprimorar a peleja pela
igualdade.
Mais do que tudo, cabe ampliar e
qualificar a presença feminina nas esferas de poder, em todos os níveis. O país que já foi governado por uma mulher há que abrir espaço para que mais e mais mulheres
ocupem cadeiras nas casas legislativas e nos posto de mando no Executivo.
As eleições, que no Brasil acontecem a cada dois anos, dão azo a que as
mulheres venham a obter mais protagonismo político. Para que tenhamos mulheres
parlamentares e governantes capazes de pugnar por um mundo de igualdade, em que
mulheres como aquela que um dia derramou lágrimas em minha casa, por se
descobrir digna de receber uma rosa vermelha, possam despertar para a luta
emancipacionista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário