Ainda nos resta a Seleção
Nilson Vellazquez, em seu Blog
Verbalize
Em meio a golpe de estado, crise econômica sem
perspectiva de se encerrar, crise política aguda e entrega do patrimônio
nacional e perda de direitos, uma coisa, pelo menos, tem alegrados os
brasileiros nesses dias sombrios: a Seleção Brasileira de Futebol.
A seleção comandada por Tite tem dado uma aula de
futebol. Alia-se, na seleção, o movimento tático atual, de compactação das
linhas, participação marcante dos atacantes de lado de campo na marcação e dos
"volantes" na situações ofensivas, com o toque de classe e habilidade
que só o jogador brasileiro tem. Além disso, um quê de entrega maior e de um
grupo que parece ter comprado a ideia do professor. Enfim, tem sido bonito ver
os jogos da seleção, há 7 jogos ganhando de todo mundo que aparece.
Essas coisas me fazem lembrar de um episódio
recente, em que, numa loja de materiais esportivos, me neguei a comprar a
camisa da seleção brasileira por me lembrar da palhaçada que os coxinhas
fizeram nos movimentos pró-golpe, usando a camisa da seleção como símbolo do
"nacionalismo" e da "recuperação do Brasil" que eles
queriam: um Brasil para poucos, que comia filé mignon na Paulista e tomava
Chandon. Todos eles vestiam o amarelo da seleção brasileira, estampada com
frases misóginas e escudo da CBF.
No entanto, a Seleção Brasileira, cujo primeiro
jogo aconteceu em 1914 contra o Exeter City da Inglaterra e em que pese a
influência nefasta da CBF para o futebol brasileiro - incluindo-se aí casos e
mais casos de corrupção e ligação umbilical com a Ditadura Militar e o sistema
Globo de Televisão - não é e nunca será símbolo da intolerância, falta de
democracia e entreguismo. Foi na seleção brasileira que o Brasil pôde ver a ascensão
de um negro ao topo mais alto de sua profissão e virar majestade; foi na
seleção brasileira que figurar como João Saldanha fizeram sua carreira e
defenderam a democracia e é, na Seleção Brasileira, que temos um pingo de
orgulho nacional a cada vez que a vemos jogar.
O jogo de ontem, mais uma vez, reafirmou meu
orgulho de ser brasileiro. E isso não tem nada a ver com alienação, com pão e
circo. Tem tudo a ver com sentimento nacional, vontade de ver, qual no futebol,
o Brasil despontando mais uma vez e sendo motivo de orgulho para os milhões de
brasileiros e brasileiras que gostam do Brasil. O Brasil que apoia o golpe
detesta o Brasil, morre de vontade de morar em Miami e acha que aqui nada
presta, igual ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que antes de se
enrolar com a Interpol, morava nos "States".
Por isso, ao sentir esse fio de alegria e
esperança, reafirmo: a CBF - e os coxinhas - não pode ser dona das nossas
emoções com a amarelinha. A Seleção Brasileira de futebol é patrimônio do povo brasileiro,
assim como a Petrobras. E ela ainda nos resta. Viva o futebol brasileiro. Viva
o Brasil.
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