Temer sob a
proteção e o temor
Janio de
Freitas, na Folha de S. Paulo
A elevação do modo de protesto popular
violento em Brasília, do vandalismo para o ataque típico de revolta civil, não
foi um aviso.
Os avisos estão dados desde o colar de
incidentes começados ainda no governo Dilma. Os ataques aos ministérios foram
já o primeiro ato.
Quem até aqui não quis ver –nos
governos e no Congresso, na imprensa/TV, no empresariado que influi na
política– está confrontado pelos fatos: a situação interna do país mudou.
Iniciou-se um processo que, embora não
irreversível, é propenso a avançar, sob o incentivo ignorante das classes
privilegiadas, aqui sempre empedernidas e vorazes.
Só esses predicados podem levar à
crença de que é possível impor, a um só tempo e impunemente, desemprego,
ostentação de roubalheiras premiadas do dinheiro público, salários atrasados,
cassação de direitos trabalhistas, redução dos miseráveis recursos e serviços
da saúde, ainda piores condições de aposentadoria para quem de fato trabalha ou
trabalhou, corte dos investimentos públicos e, pairando sobre ou sob esse
conjunto idealizado pela classe dominante, uma composição imoral de governo.
As ações diretas do povo não seguem
regras. Obedecem à lógica das suas contingências.
Nessa lógica está, hoje em dia, o alto
grau de indignação e de violência –praticada e potencial– nas cidades
difusamente armadas e mais suscetíveis a próximos capítulos da nova etapa de
escalada. Caso notório de Rio e São Paulo, mas não só.
Brasília é mais vulnerável a
ocorrências ditas de praça pública, na arrogância dos seus prédios e no convite
das suas vidraças, não porém em armas à mão. São Paulo, território primordial
para a comercialização de droga em dimensões nacionais, e Rio, território com
enclaves bandidos, exemplificam melhor o risco que a Capital projeta sobre o
país.
Michel Temer e seus parlamentares
pretenderam mais uma atitude indecente. Na calada, não da noite, mas da bagunça
mental que se generalizou, quiseram fazer na Câmara e no Senado aprovações que
levariam o empresariado influente e imprensa/TV a ampará-los, em retribuição e
por querer mais.
Em consequência, o Palácio do Jaburu,
apesar de proteção especial, passa a ter horas, talvez noites e dias, de
suspense e temor. A Câmara e o Senado deixam de saber quando poderão funcionar
não ou, como ontem.
Forças Armadas são postas a reprimir,
não bandidos, mas a gente comum. Alguma dúvida de que tirar Michel Temer é a
única hipótese das chefias políticas e seu empresariado para atenuar as tensões
do país? Mas no povo a ideia também única, que se constata por toda parte, é de
que o país está entregue a ladrões. E ele em pessoa é uma vítima de todos os
ladrões.
É apenas lógica e induzida a elevação
do modo de enfrentamento popular.
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