A audiência em
Curitiba e a dimensão da luta
Luciano Siqueira,
no portal Vermelho e no Blog do Renato
A inquirição do ex-presidente Lula pelo juiz Sérgio Moro,
ontem, para além de esclarecedora sob muitos aspectos, concentrou, em cinco
horas, a essência do que se passa no país hoje.
Imediatamente após, as poderosas redes de TV, rádio e
internet passaram a divulgar e a analisar (sic) dentre os trechos em vídeo e áudio
liberados as “partes que selecionamos”.
Ou seja, a peleja seguiu adiante imediatamente. Sem tréguas.
Lula, em sua declaração final, altivo e determinado,
denunciou com clareza a tentativa de linchamento midiático e condenação prévia de
que é vítima, encetada pelas grandes redes de comunicação, em conexão direta
com o comando da Operação Lava Jato, via vazamentos seletivos.
Moro, em tom de voz defensivo – como se diz aqui no
Nordeste, “falando fino” -, teve a desfaçatez de dizer, em tímida e acovardada
interrupção à fala do ex-presidente, que a imprensa nada tem a ver com o
processo!
O duelo de um gigante cuja força está no povo e um minúsculo
juiz de direito no papel de algoz das transformações ocorridas no Brasil entre
2003 e 2015.
Mas seria ingênuo imaginar que o comando dessa empreitada
esteja no gabinete do juiz Moro e dos seus ajudantes na força tarefa da Lava
Jato ou nas salas de edição das redes da grande mídia.
O comando se exerce de fora do país. E é o mesmo que maneja,
sob os ditames do sistema financeiro internacional, as falsas soluções à crise
global à custa do sofrimento de milhões e da tentativa de aniquilamento dos
Estados nacionais.
Por isso, se é justo e oportuno que se faça a mobilização de
rua – como ocorreu ontem em Curitiba e na greve geral – e se trave a batalha de
idéias nas redes sociais, mais justo ainda e necessário é urdir a aglutinação
de amplos segmentos políticos e sociais em defesa da democracia e da
preservação da soberania nacional.
A resistência imediata às reformas trabalhista e previdenciária
e ao conjunto da agenda regressiva de Temer há que se combinar com a elucidação
de saídas reais para a crise em suas variadas dimensões.
Uma tarefa hercúlea, que demanda inteligência coletiva,
capacidade de compreensão das engrenagens da acumulação do capital como se
apresenta hoje e incidem sobre a economia brasileira e de formulação de um rol
de iniciativas – no contrafluxo do desmonte do Estado nacional e das conquistas
sociais – que venham a dar concretude a uma plataforma de convergência de consciência
e vontade.
Lula é o ator principal da refrega e símbolo dos anseios do
povo brasileiro. Um estandarte a se manter alevantado.
Mas a construção das saídas para a complexa e multifacetada
crise em que estamos mergulhados, é tarefa a ser enfrentada a muitas mãos –
livres da estreiteza e do exclusivismo, abertas à amplitude e à pluralidade.
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