Belchior, presente!
Nilson Vellazquez, no blog Verbalize
Ontem, pela
manhã, fomos todos surpreendidos com a notícia da morte de Belchior, artista
cearense que cantou a liberdade, mas, sobretudo, cantou as coisas reais.
Diante de
mortes como a dele, é muito comum que as redes sociais se encham de mensagens,
lembranças e honrarias a artistas cuja obra encantaram e encantam pessoas num
país inteiro. É também muito comum a gente se perguntar se existem tantas
pessoas assim gostando de determinados artistas. Paira uma dúvida. Não sobre
Belchior.
Belchior era
querido por todos, principalmente por aqueles que encontravam, na democracia e
na liberdade objetivos para viver sem perder a ternura. E Belchior era pura
ternura, mesmo que seu canto torto feito, feito faca, cortasse a carne da
gente.
E cortava.
Cortava
porque Belchior, como afirma uma de suas canções, tinha alucinações por coisas
reais, mesmo quando alguns diziam que tudo era divino, tudo era tão
maravilhoso. Não. Não era divino e maravilhoso na época em que Belchior compôs
seus principais álbuns, como "Alucinação" e "Coração
Selvagem".
Eram tempos difíceis, como os de agora, em que continuamos
precisando da arte que fale sobre as coisas reais, que interaja e se entregue
aos homens e mulheres de seu tempo.
Belchior,
talvez não conscientemente, levou a sério a estética neo-realista, cujo
propósito da arte estava bem definido, sem ser chato, hermético, dogmático. Na
vida - e na arte - levou a sério o objetivo de integração latino-americana, tal
qual um jovem argentino cuja arte era diferente, Belchior andou por toda essa
América, procurando nossas semelhanças e se encantando com os tangos argentinos
ou os romances chilenos.
Por isso, em
tempos de golpe, nossa resistência é uma forma de homenageá-lo. Lutar contra a
recolonização da América Latina pela qual Belchior tanto fez.
Diante das
insuficiências de minhas palavras, só o próprio Belchior para definir o momento
de sua partida, do momento em que "eles venceram e o sinal está fechado
para nós".
Belchior,
tenha certeza de que sua vida na terra não foi em vão. Haveremos de vencer!
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