01 junho 2017

Militância revolucionária

Valores postos à prova
Luciano Siqueira

Navegando no mar revolto da múltipla crise que aflige o país, pode parecer "ideológica" - em sentido pejorativo - a reafirmação de valores muito caros à militância revolucionária.

Mas não é. 

Ao contrário, justamente nas refregas de maior envergadura, quando a dispersão política e ideológica se expande e o movimento transformador reclama descortino e rumo, a necessidade de uma justa atitude militante se acentua.

Isto porque a uma corrente política consequente, como o PCdoB, se impõe o que temos chamado de inteligência coletiva - a construção solidária da orientação política, fruto da vivência na luta concreta e da fascinante aventura da especulação teórica e tática.

Com a consumação do golpe que afastou do governo a presidenta Dilma, interrompeu-se o ciclo transformador que se iniciara no primeiro governo Lula, a partir de 2001, dando lugar a uma conjuntura inteiramente nova - de regressão neoliberal.

Nela, do ponto de vista tático, a essência está na correlação de forças, agora muito adversa. Agrupamentos situados ao centro, antes aliados ao Partido dos Trabalhadores, migraram para o conluio com a direita.

O campo comprometido com o ciclo anterior hoje não passa de um quinto do parlamento. 

E a cena política recorrentemente sofre direcionamento advindo do Judiciário, do aparato policial e da mídia hegemônica. 

Nossas forças, derrotadas na batalha do impeachment, se reagrupam gradativamente e ainda sob enorme dispersão no terreno das ideias, além da pressão "esquerdista" de que resulta exacerbado sectarismo.

A complexidade da situação e o entrechoque de distintas percepções e entendimentos sobre o que se passa, em ambiente de tremenda instabilidade e de consumada imprevisibilidade, inquieta a todos e se reflete no interior dos partidos.

Assim, o chamado debate interno é tão necessário quanto intenso, sujeito a divergências não imediatamente elucidadas com as quais é preciso conviver.

No caso particular do PCdoB, o correto, equilibrado e respeitoso equacionamento de divergências políticas é, na atualidade, uma das expressões mais elevadas do seu amadurecimento. Inspira-se na política de quadros aprovada no 11° Congresso, ela mesma um salto qualitativo quanto à construção partidária.

Nada que impeça a imperiosa necessidade do Partido agir "como um só homem" (usando a expressão de Lenin). Ou seja, preservando sua unidade, coesão e capacidade combativa.

A cada pronunciamento da Comissão Política Nacional - que responde pelo Comitê Central -, uma opinião hegemônica se afirma e se faz referência para todo o coletivo militante, resguardadas eventuais divergências individuais.

Essa compreensão democrática e amadurecida da orientação centralizada reforça o caráter de classe do Partido e sua missão histórica.

E, por conseguinte, contribui para a compreensão de que nenhum militante é maior do que o Partido, por mais saliente que seja o seu papel na sociedade e por relevante que seja a sua contribuição para a ampliação da influência dos comunistas. 

Dito de outra forma, haverá sempre uma linha demarcatória (de que a sensibilidade e o espírito coletivo de cada um deve dar conta) entre o pensamento individual (com todos os seus méritos e nuances) e o pensamento do Partido.

Somos homens e mulheres "de partido", preservamos conscientemente essa linha demarcatória e remetemos dúvidas e divergências ao debate nos fóruns partidários.

Desse modo, nenhum comunista tem a sua criatividade e o seu ímpeto pessoal inibido, pois direciona suas inquietações para a construção coletiva das ideias.

E o essencial se assegura e se fortalece: a unidade (que no dizer de João Amazonas "não é cinza, é multicolor") e a iniciativa política, que há de ser sempre ousada e criativa.
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