A condenação
de Lula e o nível da resistência democrática
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
Na luta política, há fatos
que, embora previsíveis, quando consumados têm o dom de acirrar todas as
contradições.
É o caso da condenação do
ex-presidente Lula, ontem, pelo juiz Sérgio Moro, sem provas e com base nas
"convicções" dos seus acusadores.
Esse fato, associado à
sucessão de denúncias reais e comprovadas contra Michel Temer e seu grupo, na
outra ponta do espectro político, eleva a temperatura ambiente.
Da parte dos atuais
governantes, segue o paradoxo: justo um presidente desmoralizado e rejeitado
pela quase totalidade dos brasileiros toca a agenda por todos os títulos
prejudiciais à nação e ao povo, apoiado na maioria parlamentar que o sustenta,
também de baixíssima credibilidade.
Não fossem os interesses do Mercado
financeiro — onde se situa o verdadeiro comando da empreitada golpista —,
Michel Temer já teria caído, qualquer que fosse a forma jurídica adotada.
Entrementes, se aproximam as
eleições gerais de 2018 e o embate, quaisquer que sejam as circunstâncias e as
regras legais vigentes, alcançará o status de decisão nacional.
As pesquisas mais recentes
são unânimes em apontar o ex-presidente Lula como favorito. Vale dizer, uma ameaça
de retorno ao ciclo de mudanças interrompido com o impeachment da presidenta
Dilma — tudo o que o Mercado e a elite tupiniquim não desejam.
Moro, então, cumpre o seu
papel no esquema e condena o Lula no afã de impedir que ele participe da
próxima peleja eleitoral.
Daí a dupla indignação dos
que se batem pelo Estado de Direito e recusam o desrespeito às normas
processuais e às garantias constitucionais praticado pelo juiz de Curitiba; e
resistem ao incremento da agenda de redirecionamento neoliberal da economia e
de regressão de conquistas e direitos sociais.
A grande mídia monopolista,
que apoia o golpe e participa constrangida do sangramento do governo Temer,
ocupará de agora em diante espaços privilegiados no noticiário direcionado a “revelar
detalhes” dos argumentos do juiz Moro, com o fito de atingir o prestígio de
Lula.
Nas oposições, urge dar à
resistência amplitude, pluralidade e coesão, para além de discrepâncias e
sectarismos.
Na cena atual tudo tem a marca
da instabilidade e da imprevisibilidade, mas os próximos lances certamente aguçarão
o nível da luta.
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