Fisiologia pode brecar fetichismo da
Lava Jato
André Singer,
na Folha de S. Paulo
A fixação da Operação Lava Jato são as
algemas, não o bigode de Romero Jucá (PMDB-RR). Dessa vez
quem matou a charada foi José Simão. O principal desejo de Sergio Moro,
Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot, líderes do Partido da Justiça (PJ), é punir.
Eles querem meter na cadeia o maior número possível de corruptos.
No limite, tal como no romance de
Machado de Assis, ninguém escaparia "aos emissários do alienista",
uma vez que Itaguaí inteira, perdão, o Brasil todo, teria parte com a
corrupção, inclusive o próprio trio justiceiro. Vejamos.
O braço direito de Janot na
Procuradoria trabalhou para escritório contratado pelo empresário Joesley
Batista. Prenda-se Janot. Deltan aproveitou a fama adquirida para cobrar R$ 40
mil por palestras. Prenda-se Deltan. O padrinho de casamento de Moro prestou
serviços para um acusado na Lava Jato. Prenda-se Moro.
É claro que, em algum ponto dessa dança
das cadeiras, a música vai parar. Quem caiu saiu do jogo. Quem se salvou ficou.
O primeiro sinal de parada veio um mês atrás, quando, ao contrário do relatado
em "O Alienista", a Câmara não "entregou o próprio presidente",
sabendo-se que Michel Temer é, na verdade, o chefe dos 263 deputados que
decidiram protegê-lo.
Agora a nova e, quiçá, última grande
ofensiva dos bacamartes deve ser a segunda denúncia contra o ocupante do
Palácio do Planalto.
Metido no bambuzal plantado pelo doleiro
Lúcio Funaro, Janot prepara as derradeiras flechas de que dispõe, antes de
deixar o cargo. Pelo que foi cuidadosamente vazado até aqui, Funaro revelou
detalhes sobre entrega de dinheiro ao ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN), também preso, e ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA),
que curte prisão domiciliar. Ambos são aliados históricos do atual presidente
da República.
Para também ajudar Janot, o placar de
2/8, quando Temer teve a primeira vitória, mostrou uma diminuição da blindagem
presidencial. Cerca de cem parlamentares dos que optaram por destituir Dilma em
2016 escolheram agora jogar Temer no caldeirão da Lava Jato. Com isso, a facção
anti-Partido da Justiça ficou restrita ao número que elegeu Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) à presidência da Casa no começo de 2015.
Trata-se do velho blocão/centrão. Ele
não é suficiente para fazer mudanças constitucionais, mas, bem alimentado por
verbas, consegue sustentar governos.
Foi assim que Sarney chegou ao fim do
seu arrastado mandato em 1990. Vai ser interessante assistir ao novo embate
entre os fisiológicos e os alienistas, loucos para algemar as mãos esvoaçantes
do sucessor de Rousseff.
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