Cenas explícitas de luta de
classes
Quando o
Muro de Berlim caiu em 1989, uma das falas mais marcantes e que demonstravam
bem o interesse do Império foi a do filósofo nipo-americano Francis Fukuyama,
que, a partir daquele momento decretava o "fim da história".
Por Nilson
Vellazquez*, no Vermelho
Obviamente, ao decretar o fim da história, Fukuyama estava, ao lado dos
vencedores, declarando a vitória e supremacia do Império perante os povos
explorados e os trabalhadores de todo o mundo. Batia de frente com as
concepções marxistas que apontavam a luta de classes como motor da história.
Além dele e da direita neoliberal de todo o mundo, partidos
de esquerda também passaram a desacreditar num futuro justo para a humanidade
e, a partir daí, concepções niilistas, individualistas, pós-modernas e
multiculturalistas foram tomadas - mas todas partindo de um princípio: fomos
derrotados no que de mais profundo poderia existir, que era uma transformação
do modelo econômico-social de desenvolvimento do mundo.
Essas concepções nos tornaram cada vez mais reféns de disputas
no seio da sociedade de cunho liberal - direitos às individualidades, aos
costumes e ao consumo - em detrimento da luta de classes, que nunca foi
praticada de maneira escamoteada, pelo contrário, sempre precisou derrubar
símbolos (como o Muro de Berlim), derramar sangue e castigar os derrotados.
Quando Zumbi dos Palmares foi assassinado, em 20 de novembro
de 1695, como exemplo para os outros escravos, exibiram sua cabeça em plena
praça pública, para que ninguém mais ousasse levantar-se contra os desmandos da
Coroa. Assim também aconteceu quando a burguesia ascendeu ao poder na França,
decapitando do imperador Luís XVI.
Esses exemplos servem apenas para ilustrar que luta de
classes, embora também atue no seu modo soft através dos aparelhos ideológicos
não é feita com subterfúgios; quando se tem força para executar os seus
objetivos, a classe hegemônica não titubeia.
Aqui no Brasil, portanto, a luta de classes nos últimos
tempos tem se dado da maneira mais explícita possível. Quem achava que o
impeachment fraudulento da presidenta Dilma representava uma troca de
governantes apenas, ou que era um golpe contra o PT, ou até mesmo para acabar
com a corrupção, deve(ria) passar a perceber os verdadeiros objetivos do golpe.
Em um ano de governo ilegítimo - patrocinado pela mídia
golpista e setores de corporações do estado - várias já foram as ações que
desnudam o caráter de classe impresso nesse processo de ruptura democrática
pelo que o Brasil passa. De um ano pra cá, uma quadrilha apeou o poder da
República para tentar executar o que o "mercado" lhe delegou:
entregar o Brasil de bandeja e novamente inseri-lo na cadeia capitalista de
maneira subalterna, umbilicalmente ligado aos interesses do decadente império
estadunidense. As medidas que acabam com direitos do trabalhador tais como a
Reforma Trabalhista, a Reforma da Previdência e Terceirização são medidas de
tamanha violência - real e simbólica - que nem a Ditadura Militar foi capaz de
fazer e, obviamente, para dar durabilidade a essas medidas é preciso acabar, tal
qual as estátuas de Lênin ou de Stálin, com os nossos símbolos e com a
esperança do povo brasileiro de retomar o crescimento soberano e justo.
As mais recentes investidas contra Lula são provas de que na
luta de classes não se brinca. E é preciso dizer: não se combate a luta de
classes no nível de radicalização em que ela se encontra com cirandas e
dinâmicas de grupo; se combate com politica, política como arte, política como
guerra, como guerra de trincheiras, buscando espaço, tentando dividir o inimigo
e sobretudo acumulando forças para o ataque que por mais que queiramos não tem
nenhuma condição de ser dado agora.
O golpe, por mais que atrapalhe essas políticas, não é
homofóbico ou racista por si só. O golpe é classista e nos passa uma mensagem:
nunca mais ousem governar esse país. Por isso, é preciso acabar com qualquer
chance de a esquerda voltar. Daí ser tão explícitas as medidas que fazem contra
Lula e a venda do nosso patrimônio, marcas profundas de gado no lombo do nosso
país, com o selo bem grande dos EUA.
Quisera eu que também pudéssemos ter impresso a nossa marca
com maior profundidade. Infelizmente, o caminho de distribuição de renda
apenas, ou da "questão social" sem tocar na estrutura do estado e no
caminho da soberania nacional tendo e vistas o socialismo possibilitou que
nossas mudanças fossem leves como o vento. Aos poucos, iremos nos desfazendo de
todas elas. O Brasil já voltou ao mapa da fome e é cada vez mais crescente o
número de trabalhadores informais e moradores de rua nas cidades de nosso país.
Por isso, em tempos difíceis como este em que vivemos -
tempos de cenas explícitas de luta classes, que é vivida em tabuleiro
internacional - é preciso atuar explicitamente também. Fazer luta de classes no
parlamento, nas ruas e onde mais puder ser. Sem essa perspectiva bradaremos
incansavelmente nossas consciências e nosso radicalismo sem adentrar no cerne
da questão: como transpor o regime golpista?
Pra mim, só ultrapassaremos esse estágio da luta de classes
com muita amplitude, trazendo para o lado de cá quem puder trazer. Ao longo
desse caminho, ficaremos alguns, eliminaremos outros, mas só uma grande frente
nacionalista, desenvolvimentista e consciente da árdua missão que nos cabe
poderá superar a ignomínia a que submetem o nosso país dia a dia.
Vamos à luta!
*Nilson Vellazquez é
professor da rede pública e secretário de formação do PCdoB de Pernambuco.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
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