Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Manchete principal de um dos sites noticiosos de audiência nacional,
hoje cedo: “Temer assume pessoalmente
balcão de negociações às vésperas da votação de denúncia.” Ao que completei no
Twitter: “Mais deplorável é que ele age assim desde que usurpou o governo.”
Como a nação inteira presencia diariamente.
E o mais grave é que o noticiário
há muito vem tratando as vergonhosas manobras cotidianas de Michel Temer e
do grupo que com ele governa com absurda naturalidade.
Pesa mais a contabilidade das adesões ao
presidente na votação da denúncia da Procuradoria Geral da República, na Câmara
dos Deputados, do que o teor das negociatas celebradas por ele próprio e seus
ministros mais íntimos.
Ao risco de passarem como “naturais“ a
redefinição dos parâmetros de avaliação do trabalho escravo, o perdão de parte
considerável das dívidas de multas de proprietários rurais infratores
ambientais e assim por diante.
Ainda nos anos 60, na apresentação do seu
livro “Tortura e torturados no Brasil“, o jornalista Márcio Moreira Alves
mencionou uma reunião de pauta do órgão em que trabalhava, o Jornal do Brasil,
na qual, diante da informação de novas prisões e torturas de militantes
políticos, um dos participantes comentara que aquele tipo de notícia já vinha
se banalizando e não mereceria destaque.
Márcio, então, assustado com tão absurda
opinião, decidira reunir num volume todos os casos conhecidos de violência
cometida pelos militares até então.
De modo semelhante, ouvi hoje um comentarista
político de uma emissora de rádio dizer que a corrupção no governo Temer como
método de auto-sustentação já não seria mais novidades e, portanto, o mais essencial
é avaliar as possibilidades do presidente vencer a votação de amanhã com maior
ou menor margem.
Daí se poderá deduzir, em parte, no dizer do
comentarista, com que autoridade (sic) Temer seguirá governando.
Eis aí um risco real de cristalização, pela
pior via, do ambiente geral de descrença e desengano que envolve a maioria dos
brasileiros e brasileiras na atual conjuntura
Ao contrário, há que crescer a justa
indignação no espírito do nosso povo a cada revelação das tramóias cotidianas de
Temer e seu grupo.
Jamais se deve ter como “natural” a
permanência do presidente no cargo que usurpou via golpe institucional e que
exerce cumprindo uma agenda por todos os títulos inaceitável, de desmonte do
Estado nacional, de regressão de direitos e de favorecimento a interesses e
privilégios dos piores segmentos da elite tupiniquim.
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