Farofeiros nas
nuvens
Luciano Siqueira, no Blog da Folha e no Vermelho
Tempo bicudo o que vivemos. Para onde você olha, mais dificuldades aparecem. Nisso há uma absurda convergência nacional.
Tempo bicudo o que vivemos. Para onde você olha, mais dificuldades aparecem. Nisso há uma absurda convergência nacional.
As empresas de aviação estão
completamente sintonizadas com a situação. Além de tratarem o usuário com
perversa indiferença, como se pudessem tudo e em troca de tarifas pesadas não
devessem oferecer nada mais do que o transporte de um destino a outro, acumulam
novidades negativas - contra nós indefesos passageiros.
Além de novos limites de tamanho e
peso da bagagem - um artifício para a cobrança de uma taxa a mais –, a
antipática substituição do antigo serviço de bordo por um saquinho-de-qualquer-coisa,
acompanhado de um mísero copo d'água.
- Doce ou salgado, senhor? Aceita
água - com ou sem gelo?
A aeromoça nos aborda como quem
faz um imenso favor ou generosa cortesia.
Mas vem o comissário de bordo
empurrando o carrinho e nos oferece o cardápio sem graça nem gosto, a preços
nada agradáveis.
Pois bem. Num voo da Gol do Rio de
Janeiro ao Recife, nossa delegação - Luci, eu, filha, genro e três netos -,
ocorreu a todos que a privação de comes e bebes despertaria, se não fome
propriamente dita, talvez o desejo irrefreável de mastigar algo.
E ninguém estava a fim de adquirir
nada do insosso e inflacionado menu.
Mal nos sentamos, apertamos o
cinto e nos preparamos para a decolagem, bolsas se abriram deixando visíveis
pacotinhos de biscoito, chocolates e que tais.
Não deu pra trazer o hambúrguer de
Miguel, o cuscuz de Pedro e o arroz branco de Alice. Mas a ração de guloseimas
era bem razoável.
- Somos farofeiros nas nuvens!,
proclamei de imediato.
E assim percorremos as duas horas
e quarenta e cinco minutos que nos levaram do Rio ao Recife nos "achando o
máximo", com olhares de superioridade dirigidos aos ocupantes dos assentos
mais próximos, eles pobres coitados condenados a sobrevirem a mini bolachinhas
e água.
(Meu genro Alexandre, sempre
atento a tudo, jura que surpreendeu, uma fila adiante, uma jovem senhora, muito
bem posta, saboreando imensa banana prata).
Karl Marx concebeu a História
evoluindo em espiral: a cada época, a Humanidade como que retorna ao ponto de
partida para recomeçar novo ciclo, agora em patamar superior. Em matéria de
viagem aérea, talvez estejamos vivendo um péssimo tempo de escassez e maus tratos
como prolegômeno ao início de novo ciclo, tão farto quanto no áureo tempo da
Varig, dos aperitivos e das refeições completas.
Não percamos a esperança.
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