Variável regional das eleições gerais
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Na grande mídia multiplicam-se comentários de “analistas“ surpreendentemente perplexos com o que chamam de um “fator novo” a complicar as relações entre Michel Temer e a sua base de apoio na Câmara e no Senado.
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Na grande mídia multiplicam-se comentários de “analistas“ surpreendentemente perplexos com o que chamam de um “fator novo” a complicar as relações entre Michel Temer e a sua base de apoio na Câmara e no Senado.
Inclusive agravaria as
dificuldades já existentes quanto à tramitação da reforma previdenciária.
A “novidade”, entretanto, é muito
antiga: alianças regionais discrepantes das composições nacionais, agora e em
futuro próximo, relativas ao posicionamento de cada corrente política diante do
governo central e o jogo de forças em plano local, mirando governos estaduais.
Nenhum motivo para surpresa nem
perplexidade. Eleições gerais nunca foram verticalizadas no Brasil, coalizões
em torno de candidaturas à presidência da República diferem das celebradas nos
estados.
Até em eleição “solteira“, como em
1989. Por exemplo, o maior partido de oposição de então, o PMDB, não marchou
unido em torno da candidatura de Ulysses Guimarães. Pelo Brasil afora se
dispersou em torno de outras postulações, sobretudo do candidato vitorioso
Fernando Collor.
Assim, noticia-se que em alguns
estados importantes há conversações entre o PT e o PMDB, que admitem alianças no
pleito vindouro.
A leitura simplista desse fato
sugere algo formalmente impossível, porém perfeitamente viável na prática.
Tanto que Lula, em seu jeito fácil de comunicar, declarou recentemente que
perdoaria golpistas e com eles poderia marchar olhando para o futuro do Brasil.
(Aliás, uma postura tática
correta, livre de sectarismo e de armadilhas mecanicistas).
Tudo a ver com a complexidade da
sociedade brasileira, especialmente a enorme diversidade regional do ponto de
vista econômico cultural social e político.
Também reflexo da própria
legislação eleitoral, que absorve essa realidade.
Tivéssemos partidos programáticos
e regras que induzissem o eleitor a identificar partidos e programas ao invés
de simplesmente escolher indivíduos — como o voto em listas preordenadas para
cargos legislativos, por exemplo —, teríamos uma mínima harmonia entre alianças
nacionais e locais.
Ao largo dessa percepção da
realidade, cabe tudo — inclusive manifestações de estreiteza e intolerância,
pondo a segundo plano as razões de conteúdo.
Que Temer tenha suas dificuldades
políticas agravadas em si é algo positivo, no sentido de dificultar o
incremento de sua agenda antinacional e regressiva de direitos.
Mas estranhar o jogo de forças
furta-cor que antecede o próximo pleito não passa de ingenuidade ou de mero desconhecimento
da vida política brasileira.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
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