Leitura de bordo
Luciano Siqueira, no Vermelho
É sempre assim, mesmo em viagens curtas: leio e escrevo sempre. Pelo prazer em desvendar o sentido das coisas e, confesso, para evitar a conversa nem sempre agradável de quem viaja no assento ao lado.
Luciano Siqueira, no Vermelho
É sempre assim, mesmo em viagens curtas: leio e escrevo sempre. Pelo prazer em desvendar o sentido das coisas e, confesso, para evitar a conversa nem sempre agradável de quem viaja no assento ao lado.
De viajantes incômodos tenho boa
experiência acumulada. Tanto que desenvolvi modos próprios de me desvencilhar
deles.
Mas nem sempre com sucesso.
Como da vez que, por descuido
imperdoável, admiti ser (ou ter sido) médico. O que me rendeu longa e
entediante conversa com a jovem primípara, que me bombardeou com perguntas
intermináveis sobre o futuro parto e cuidados com recém-nascidos.
Ou quando eu lia 'O velho e o
mar', de Ernest Hemingway, e o cidadão ao lado, que se dissera missionário
evangélico (sem que eu o perguntasse), a ensaiar perguntas sobre a
"terceira idade" e as praias do Nordeste!
Diante do meu evidente mau humor,
enfim se tocou, cessaram as perguntas impróprias, porém me pediu "um livro
para que eu também leia, se o senhor tiver aí". Vinguei-me passando às
mãos do dito cujo um exemplar de 'Salário, preço e lucro’, de Karl Marx, que
folheou, tentou ler algumas passagens e logo me devolveu.
Pois bem. Melhor mesmo é, tão logo
me acomodar na aeronave, sacar da pasta um livro ou o iPad e me dedicar ao
prazer solitário da leitura ou da escrita.
Agora mesmo manuseei rapidamente a
revista da Gol e a refuguei de pronto.
O manuseio se prende às fotos, muito
boas, que ilustram algumas matérias.
O refugo fica por conta da
absoluta inutilidade (para mim) dos textos, um misto de "autoajuda"
para empresários ou pretendentes a tal e, à guisa de reportagem, propaganda de
hotéis e restaurantes de luxo.
Com licença da nostalgia, registro
em ata minha saudade dos tempos em que líamos nas revistas de bordo gente como
Luís Fernando Veríssimo e outros do mesmo naipe. Ótimas crônicas, puro
deleite.
Hoje em dia parece que os editores
dessas revistas nos tratam como leitores frívolos, desprezíveis e meros
consumistas.
Verdadeiro oásis é alguma
entrevista ocasional com personagem digno de atenção, como o ator Lázaro Ramos,
por exemplo, que pude ler alguns meses atrás.
Feito o registro, dêem-me licença
que vou concluir a leitura de 'Sobre a China', de Henry Kissinger e encarar o
novo romance de Milton Haroum, 'A noite da espera'.
Boa viagem!
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário