A revista ‘Propágulo’ e a construção coletiva das ideias
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo
Pelas mãos de Pedro, meu neto, aluno da área de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, conheço a revista 'Propágulo' — sob todos os títulos, uma bela iniciativa.
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo
Pelas mãos de Pedro, meu neto, aluno da área de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, conheço a revista 'Propágulo' — sob todos os títulos, uma bela iniciativa.
Começa pelo nome escolhido, tomado
da botânica, que sugere a intenção de se multiplicar e de propagar.
Ótimo projeto gráfico, textos
consistentes.
Tudo sob a responsabilidade de estudantes,
que a editam e a mantêm.
Lembrei-me de pronto do tosco
jornal 'Iniciativa', da nossa turma do segundo ano de Medicina da UFPE, nos
anos sessenta do século passado. Mimeografado, mas igualmente ousado e feito a
muitas mãos por um grupo de colegas sintonizados com o ambiente da época, de resistência
ao regime militar e de ânsia por conhecer, opinar e se fazer ouvir.
Sou um apaixonado pela construção
coletiva das ideias, que pressupõe espírito aberto à crítica e ao debate e
muita ousadia em subverter verdades supostamente pétreas, imutáveis.
Nada é imutável, como nos ensina a
dialética; o repouso é relativo, o movimento é absoluto. Como diria Karl Marx,
tudo o que é sólido se desmancha no ar.
Ainda não li os artigos deste
primeiro número da 'Propágulo', passei os olhos rapidamente - pelos textos e
pelas ilustrações. Amor à primeira vista. E entusiasmo com o propósito dos seus
editores, de "proporcionar uma conversa entre inúmeras vozes que compõem a
diversidade presente nas artes visuais".
Isto a partir do ambiente da UFPE,
de larga tradução de rebeldia.
Numa cidade como o Recife, que
nascida porto, ocupada na exportação de produtos primários para Portugal e
Europa, e na importação de manufaturados, fez-se congenitamente cosmopolita.
Desde sempre troca mercadorias e
ideias, dialoga com gentes e culturas de todo o mundo.
Uma das razões para que nossa
cidade (e Pernambuco) historicamente tenha sediado revoltas libertárias que
marcaram a construção da nacionalidade.
No projeto de Constituição
redigido pelo Frei Caneca, na Confederação do Equador, por exemplo, se vê clara
influência da Revolução Francesa.
A despeito disso, desse caráter
cosmopolita, construímos uma forte identidade cultural — que se renova
incessantemente, preservando, entretanto, suas raízes. A exemplo de Chico
Sciense e seus companheiros, que assimilaram o rock e o devolveram ao mundo
impregnado do toque do maracatu.
Nos tempos cinzentos que
atravessamos, sob a onda obscurantista que se espraia mundo afora, em que o
sectarismo, a intolerância e até o ódio conspiram contra o bom e criador debate
de ideias, exemplos como o da turma que faz a revista 'Propágulo' devem
prosperar.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
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