Candidata
à Presidência pelo PCdoB, Manuela D’Ávila diz que esquerda pode se
unir
KÁTIA GUIMARÃES katia.guimaraes@jb.com.b, Jornal do Brasil
Até agora, única pré-candidata mulher à
presidência da República, Manuela D’Ávila foi deputada federal pelo PCdoB por
dois mandatos e hoje ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio Grande
do Sul. Aos 36 anos, ela ficou fora das eleições de 2014 porque sua filha Laura
havia acabado de nascer. Agora, traz Laura a seu lado sempre que pode nas
agendas de campanha. Militante feminista, Manu, como é chamada, acredita que as
propostas da esquerda vão se impor ao discurso do ódio. “No processo
eleitoral vamos mostrar que o Jair Bolsonaro não tem nenhuma proposta para o
povo brasileiro”, diz Manu.
O que representa a comoção com o
assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes ?
Ela era a personificação da luta das
mulheres, negras, lésbicas, das favelas. E a dimensão disso gera um impacto
popular. Se isso aconteceu com ela, o que não acontece com a mulher negra que
vive na favela e que não tem visibilidade? A morte dela também desnudou a
violência que as pessoas sofrem na periferia do Brasil, que é um dos temas que
o país precisa enfrentar, mas que quando se fala em violência jamais debate.
Marielle acabou encarnando tudo isso. O grito da população que milita e vê mais
um dos defensores de direitos humanos no Brasil. Ser morto é um grito de ‘é
isso que nós vivemos no nosso cotidiano’. O impacto foi tão grande porque a
Marielle se dedicava à vida, à luta coletiva, então a morte dela é uma morte
coletiva. E o ataque é a um conjunto de pautas que ela defendia.
A morte de Marielle deixou uma lição
sobre a violência e o discurso de ódio?
Mostrou o quão é vital e necessária é a
nossa luta unitária pela democracia e pelos direitos humanos. Veja como foi a
proliferação de mentiras e a possibilidade que tivemos de descobrir esses
atores mentirosos importantes da sociedade brasileira, como foi o caso da juíza
(Marília Neves Vieira). Essa pessoa disseminou ódio e violência. Além de
comemorar a morte da Marielle, ela sugeria que o Jean Willys merecia passar por
um corredor polonês para ser executado e que a bala seria muito fina e não
seria suficiente para matá-lo com prazer. A morte da Marielle tem que servir
para gente perceber que a luta contra o fascismo é o que nos une. Em certo
sentido isso matou a Marielle, mas são esses monstros que a morte da Marielle
libertou.
Apoiadores do deputado Jair Bolsonaro
fizeram protestos violentos durante a caravana do ex-presidente Lula pelo
Sul...
É um pouco a demonstração de quem são
essas pessoas, porque tentar impedir o Lula de se reunir com quem quer vê-lo e
ouvi-lo é a cara do que essa gente representa e do pouco compromisso com a
democracia no Brasil. ‘Se não reza a minha cartilha, essa pessoa não pode
falar’. A democracia para eles é conjuntural, nunca foi uma premissa, mas pelo
menos, eles disfarçavam. Se dá para aplicar nossa cartilha com democracia tudo
bem, se não dá, dane-se a democracia, por isso o impeachment e, por isso, o
esforço deles de tentar impedir o Lula de concorrer.
O apoio à candidatura de Bolsonaro, que
tem pautas extremamente controversas, é expressivo?
Eu ouvi que ‘o Brasil se divide entre
os que tem esperança e os que tem pânico e pavor diante da realidade’. A gente
precisa em primeiro lugar entender que existem razões para as pessoas sentirem
medo e insegurança com uma realidade de desemprego e violência. Isso motiva as
pessoas a buscar alternativas desesperadas. Foi assim no fascismo. Para mim, o
Bolsonaro é aquele que, sem proposta nenhuma, tenta transformar esse medo em
ódio, o ódio no diferente, no adversário potencial. A minha esperança é
que, no processo eleitoral, a gente mostre que ele não tem nenhuma proposta
para o povo brasileiro.
Os partidos de oposição estão lançando
cada um o seu candidato, não seria a hora de um único nome?
O golpe abre um novo ciclo político e,
por isso, a esquerda apresenta candidaturas distintas. Mas nós avançamos. Claro
que temos diferenças, mas não se pode permitir que isso fale mais alto do que
os nossos pontos em comum. Nós construímos um programa em comum e isso foi a
primeira vez que conseguimos. O manifesto foi o primeiro passo, porque antes
nós não conseguimos sequer fazer isso. Nosso esforço deve ser no primeiro
turno, se conseguirmos ter uma relação respeitosa na vida real. Não dá
para ser bem-educado na frente e ficar pela internet um desconstruindo o
outro...
Então a ideia é fazer uma aliança no
segundo turno?
É o mínimo que eu espero, que a gente
esteja lá. Não perdemos as últimas quatro eleições para a Presidência. É o nosso
programa que venceu as eleições. Eles tiveram que dar um golpe para implementar
o programa deles derrotado nas urnas. É bom que a gente sempre lembre disso. O
povo não vota em um projeto que retira direitos trabalhistas, um projeto que
congela os gastos públicos por 20 anos. Como é que as mulheres vão votar em um
projeto que congela gastos públicos, se elas não têm creche para deixar os
filhos e voltar para o mercado de trabalho? Eu acho que a gente tem que
enfrentar e garantir que um de nós esteja lá e, como disse o Lula, se tivermos
dois que maravilha.
O presidente Temer está apostando na
pauta da segurança alçada pela intervenção no Rio para reverter o cenário
desfavorável a ele e cogitando a reeleição...
Reeleição não, porque de voto ele não
gosta. O forte dele é a luta antidemocrática e não a luta democrática. Seria
interessante a gente poder vê-lo disputar uma eleição, porque nem deputado
federal ele se elegeu na última vez que concorreu. Ele era suplente.
A gestão do governador do Maranhão,
Flávio Dino, que é do PCdoB, tem sido bem avaliada. É uma vitrine para se
espelhar?
Ele é a grande prova de que existem
saídas para a crise que passam por investir mais em política sociais e não
menos. O Flávio aumentou o salário dos professores e tem hoje o segundo melhor
Estado para investir no Brasil. E se a gente olha de onde ele saiu e para onde
ele foi, aí a gente vê que é mais fantástico. Ele é uma vitrine para o nosso
campo político e ainda mais para o PCdoB.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/ kMGFD e acesse o canal ‘Luciano
Siqueira opina’, no
YouTube http://goo.gl/6sWRPX
Nenhum comentário:
Postar um comentário