01 abril 2018

Construtor da unidade


Renildo Calheiros, o conselheiro político de Paulo Câmara
Paulo Veras, no Jornal do Commercio

Como o ex-prefeito de Olinda Renildo Calheiros (PCdoB) se tornou um dos principais articuladores políticos do governador Paulo Câmara (PSB)

Um ano após sair desgastado da Prefeitura de Olinda, Renildo Calheiros (PCdoB) se tornou um importante conselheiro político e operador decisivo no processo de reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Afável e discreto, o “galego”, como o comunista é chamado nos corredores do Palácio do Campo das Princesas, esteve à frente de articulações com PP e PDT, com as chapinhas e é apontado como uma ponte entre os socialistas e o PT.

“Ele é um dos melhores quadros da política pernambucana. Tem espírito conciliador e coloca sempre em primeiro lugar o desenvolvimento de Pernambuco”, afirma o deputado federal Eduardo da Fonte, presidente do PP-PE, sobre o papel que o ex-prefeito tem exercido na Frente Popular.

No final do ano passado, sob a ameaça de perder o MDB para a oposição, o governo Paulo Câmara fez dois movimentos para assegurar o apoio de partidos médios na campanha: acomodou o PDT na Secretaria de Agricultura e ampliou o espaço do PP, que ficou com a Secretaria de Desenvolvimento Social e a administração de Fernando de Noronha. As duas movimentações tiveram a forte participação de Renildo. Ele fez a ponte entre os partidos, que se queixavam de sub-representação na gestão, e o então secretário da Casa Civil, Antônio Figueira, convencendo o governo a dar mais poder às siglas para assegurar tempo de TV.

Tem pelo menos mais uma sigla com a qual Renildo pode ajudar, na avaliação do Palácio do Campo das Princesas: o PT. Ele é apontado como amigo pessoal do senador Humberto Costa e do ex-prefeito do Recife João Paulo, além de interlocutor do ex-presidente Lula. Como deputado federal, Renildo foi vice-líder de Lula no início do governo petista e, depois, liderou o bloquinho, formado por partidos de esquerda que davam sustentação ao governo. Em 2015, Renildo já havia feito movimentos para tentar aproximar o governador da então presidente Dilma Rousseff, para abrir portas em Brasília.

“O perfil de Renildo é de articulação. Ajudou muito Eduardo na política de alianças. Teve um papel importante no governo Arraes. Ele é um grande articulador. Eu diria que é a principal especialidade dele”, diz João Paulo, que afirma desconhecer se o ex-prefeito fez gestões por uma aproximação entre o PT e o PSB.

Segundo o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), Renildo tem uma ótima relação com Paulo e com o prefeito da Capital, Geraldo Julio (PSB). "O PCdoB sempre teve uma relação muito próxima de amizade com o PSB desde Arraes. Isso continuou com Eduardo Campos. E esses companheiros como Paulo Câmara e Geraldo, que eram ligados a Eduardo, também se sentem muito à vontade nesse diálogo com Renildo. Eles presenciavam e viam essa boa relação não só com Renildo, com vários de nós. Mas Renildo, em particular, trabalhou no governo Arraes e tinha uma relação muito forte com Eduardo”, explica Luciano.

De Alagoas à UNE

Irmão do poderoso ex-presidente do Senado Renan Calheiros, Renildo construiu uma trajetória política diferente, pela esquerda. Natural de Murici, uma cidade de 26 mil habitantes no interior de Alagoas, Renildo veio para o Recife estudar Geologia. Em Pernambuco, filiou-se ao PCdoB, começou a galgar espaço no movimento estudantil e acabou presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) entre 1984 e 1986. Dez anos depois, foi nomeado secretário adjunto no segundo governo Miguel Arraes, onde se aproximou do ex-governador Eduardo Campos, de quem foi um conselheiro frequente.

“Eu vi isso sendo desenvolvido lá atrás. Éramos bem mais jovens, ele, eu, Eduardo vivo, como chefe de gabinete e depois secretário naquele segundo governo de Arraes. Desde lá, Renildo tem um papel muito importante na articulação combinando com Eduardo e com o PSB. Doutor Arraes gostava muito dele e tinha confiança nele. Ele fazia a ponte com a Assembleia Legislativa e com prefeitos. Ele participou no coração da articulação política daquele segundo governo Arraes”, admite Bruno Ribeiro, presidente do PT-PE. Ele nega, porém, ter sido procurado pelo ex-prefeito para tratar de um retorno dos petistas à Frente Popular.

Pré-candidato a deputado federal pelo PCdoB, Renildo também tem participado das conversas sobre a formação de uma chapinha com partidos da Frente Popular, um dos temas mais sensíveis nessa fase da construção de chapas pela Frente Popular. Além do plano federal, o ex-prefeito de Olinda também tem acompanhado de perto as costuras em relação a formação das chapas proporcionais também para estadual, segundo uma fonte do governo.

“Em sua trajetória, Renildo reuniu muitas condições para ser um dos principais interlocutores dessas forças em Pernambuco”, explica a deputada federal Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB.
Procurado, Renildo não quis conceder entrevista para esta matéria. “Isso é generosidade das pessoas que gostam de mim”, desconversou. “Como você sabe, se alguém quiser ajudar na articulação, de alguma maneira, não pode pretender ser protagonista”, indicou o comunista.

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