JusDh denuncia influência de empresas no Judiciário
brasileiro para relator da ONU
A articulação destaca o patrocínio de eventos da magistratura por
empresas e o pagamento de honorários para realização de palestras como ameaças
à independência do Judiciário.
Viomundo
As advogadas da Articulação Justiça e Direitos
Humanos (JusDh), Luciana Pivato e Camila Gomes, participaram, nesta
terça-feira (17), de reunião com o relator especial da Organização das Nações
Unidas (ONU) sobre a independência judicial dos magistrados e advogados, Diego
García-Sayán.
Na ocasião, as advogadas entregaram ao relator uma
denúncia sobre casos de influência indevida de empresas no judiciário e de
violação ao princípio de independência do Judiciário brasileiro.
Realizada na Universidade de Brasília (UnB), a
reunião ainda contou com a participação dos advogados do ex-presidente Luís
Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira
Zanin, dos professores de direito da UnB, Marcelo Neves, e da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Juarez Tavares, do professor do Instituto de
Ciência Política da UnB, Pablo Holmes, da advogada
do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de
Direitos Humanos, Paloma Gomes e do representante do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Antônio Marcos e as advogadas da JusDh.
Violação do princípio de independência do
Judiciário
No documento entregue ao relator, a JusDh destaca
que o patrocínio de eventos da magistratura por empresas e a pagamento de
honorários aos magistrados para realização de palestras em eventos privados se
configuram como um campo permeável à captura corporativa do Judiciário pelas
empresas.
A articulação destaca que, ainda que a Resolução
170/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) limite o financiamento
empresarial de eventos da magistratura e participação de magistrados em eventos
promovidos por empresas, “as regras estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Justiça não têm sido eficazes para proibir essa prática no país”, diz um trecho
da denúncia.
Desde a criação da JusDh, em 2011, a articulação
tem denunciado a ineficácia da resolução que disciplina o controle do pagamento
de honorários e patrocínio de eventos da magistratura (Veja matéria).
A denúncia ainda aponta que diante da solicitação
pela JusDh ao CNJ sobre o monitoramento da Resolução, a articulação foi
informada que o monitoramento está suspenso desde 2013 por decisão dos
conselheiros.
Também não foram atendidas as reivindicações da
articulação, junto ao CNJ, para revisão das normas que disciplinam o assunto.
“No final de 2016, logo após recebermos a notícia
da realização do VI Encontro Nacional de Juízes Estaduais pela Associação
dos Magistrados Brasileiros, evento que contou com patrocínio de bancos como a
Caixa Econômica Federal — um dos bancos com maior número de processos em
andamento — enviamos uma denúncia a ministra Carmem Lúcia, presidente do
CNJ, e relatamos diversos casos de eventos patrocinados por empresas que
explicitam que a norma do CNJ não é suficiente para garantir o princípio da
independência do judiciário”, afirma a advogada da Terra de Direitos e
JusDh, Luciana Pivato.
Outra forma de estabelecimento de influência do
setor empresarial no Judiciário é, segundo a denúncia, o pagamento de
honorários à magistrados para realização de palestras. As participações
recentes do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, e
do juiz Sergio Moro, palestra na escola de Direito da Universidade de Harvard,
nos EUA, evidenciam como esta prática é recorrente e pouco transparente.
O pagamento aos ministros do Tribunal Superior do
Trabalho pelo Banco Bradesco é exemplar desta ocorrência, como consta a matéria
publicada pela Folha de São Paulo.
Outra denúncia realizada recentemente trata das
palestras do ministro Barroso para Tribunal de Contas de Rondônia (leia mais).
Pedidos ao relator da ONU
A denúncia feita pela Articulação é de que a
Relatoria da ONU solicite informações ao governo brasileiro sobre a independência
judicial dos magistrados e ao CNJ sobre o monitoramento da Resolução que
trata do patrocínio de eventos jurídicos.
A denúncia ainda solicita que a Relatoria faça
recomendações ao país sobre as ameaças à independência judicial, realize uma
vista ao país e que os casos de violação à independência judicial sejam
incluídas no relatório anual da ONU para o tema.
“A Jusdh espera que a Relatoria possa pressionar
para o Brasil crie mecanismos de controle que garantam uma justiça realmente
independente e comprometida com os direitos humanos”, destaca a advogada
Luciana Pivato.
O relator Diego García-Sayán se comprometeu a ler e
analisar as denúncias realizadas pela JusDh.
Denúncia sobre ameaça aos defensores de direitos
humanos
Na ocasião, a representante do Comitê Brasileiro de
Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), Paloma Gomes falou sobre a
situação das pessoas que defendem direitos no Brasil.
A violência e criminalização contra defensoras e
defensores cresce vertiginosamente no país desde 2015.
A partir da análise destes casos, o Comitê constata
a participação direta de agentes do Estado em ações violentas, massacres e
chacinas.
A advogada do Comitê, Paloma Gomes, destacou que o
Comitê vem chamando a atenção para a seletividade do sistema de Justiça.
“Se de um lado, esse sistema é célere para a
criminalização e contenção daqueles que reivindicam a realização de direitos,
afrontando, inclusive, garantias constitucionais, do outro lado, é moroso para
apuração e responsabilização daqueles que praticam violência contra os
defensores/as”.
A advogada citou exemplos como os casos da recente
prisão do Padre Amaro, da Chacina de Pau D’arco, e as ordens de despejos
determinadas pela Vara Agrária de Marabá (PA) em 2017.
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