Questão de ritmo e de conteúdo
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Quase tudo na mesma — escreve um
articulista, em tom de estranheza, sobre as conversações entre partidos em
relação às eleições presidenciais.
Alianças ainda a passos lentos —
destaca em manchete um jornal local.
Nos textos, entretanto, nenhuma linha
acerca das reais dificuldades (ou possibilidades) de entendimento entre tais ou
quais lideranças ou agremiações partidárias.
A observação faz sentido porque
realmente não vivemos um momento pré-eleitoral comum. Estamos a cerca de cinco
meses do pleito convivendo num ambiente marcado por indefinições em todas as
esferas da sociedade, em que nada é precisamente previsível.
A ponto de Michel Temer se dizer
temeroso de que as forças que ele considera "de centro" se dispersem
em torno de mais de uma candidatura e, desse modo, fiquem de fora de um
eventual segundo turno.
De modo semelhante, entre as correntes
situadas à esquerda se discute qual a melhor opção tática, se devam partir
unidas já no primeiro turno — para que passem a um segundo turno polarizando
com o campo de centro-direita, por hipótese — ou arrisquem a opção solo de cada uma
das quatro pré-candidaturas postas.
Uma variável a considerar diz respeito
ao conteúdo programático, digamos assim, que possa unir forças — tanto no
conglomerado governista como nas oposições.
Aí reside um nó difícil de desatar,
especialmente entre os governistas. Pois o desafio é, a um só tempo, escapar ao
carimbo golpista e apresentar proposições que correspondam às necessidades e às
expectativas da maioria do eleitorado.
Em outras palavras: como apresentar a
agenda ultra liberal compromissada com o rentismo e com interesses da elite
tupiniquim mais retrógrada de um modo que sensibilize e conquiste o voto das
vítimas dessa agenda?
Mesmo no plano local, não há como
definir por completo o quadro da disputa agora, nem acelerar a busca de
entendimentos sem que amadureçam certas variáveis.
Por exemplo: o PT se reintegrará ou não
à Frente Popular na recandidatura de Paulo Câmara ou confirmará candidatura própria? Em
boa medida essa decisão tem a ver com a postura do PSB diante da postulação de
Lula à presidência da República (ou de um eventual substituto) — cujo desenlace
não ocorrerá antes da segunda quinzena de julho.
Decididamente não há como colher o que
ainda não amadureceu.
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