04 junho 2018

Erro tático


Dois propósitos que não deveriam se conflitar
Luciano Siqueira

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o ex-ministro e atual prefeito de Araraquara, Edinho Silva, do PT, anuncia dois objetivos do seu partido no pleito de outubro: a defesa do ex-presidente Lula, em primeiro lugar; e em segundo lugar a vitória eleitoral.

Ou seja, a questão crucial para as forças de esquerda, democráticas e progressistas — interromper o golpe através de uma vitória eleitoral em outubro — estaria em segundo plano.

Vale dizer, em segundo plano os interesses da nação e do povo brasileiro.

Não que o ex-presidente Lula não mereça a solidariedade de todos os que compreendem o processo de perseguição de que é vítima, que culminou com a sua condenação e prisão largamente avaliada por juristas de diversas correntes como uma arbitrariedade.

Lula merece, sim. Como o PT tem todo o direito de insistir com a sua pré-candidatura à presidência da República, até que o TSE a confirme ou a recuse.

Não pode, entretanto, subestimar a absoluta necessidade de uma convergência de forças, a partir da esquerda, para o embate que se avizinha.

Como bem assinalou Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício Grabois, em conclave sindical recente, “a batalha eleitoral é agora o centro de gravidade da luta política”. 

O ex-ministro petista, no entanto, formula uma "engenharia" política complexa, difícil de concretizar na prática. Diz ele, na citada entrevista, que o PT deve fazer um movimento mais amplo do que o eleitoral, em torno da defesa de Lula, embora reconheça a importância de vencer o pleito. Mas a luta eleitoral não pode “contaminar” a defesa de Lula, adverte.

O fato real e irrecusável é que estamos às portas de uma batalha de enorme magnitude, em meio a uma correlação de forças adversa. Porém em razão de fissuras e contratempos nas hostes governistas, uma ação unificada e competente dos partidos e segmentos oposicionistas mais consequentes poderá resultar num segundo turno a partir de que uma ampla frente possa sair vitoriosa.

Isto seria uma conquista de grande valor. Poderia dar azo a um novo pacto social e político capaz de redefinir os destinos do País.

Mas a dimensão desse desafio parece escapar à análise do prócer petista.

Mas há tempo para corrigir o equívoco e enfrentar os dois desafios — disputar o pleito com chances de vitória e defender o ex-presidente Lula — sem essa incorreta inversão de prioridades que, além de falsa, produz um indesejável conflito entre os dois propósitos igualmente justos.

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