A antecipação no
futebol e na política
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Em recente
entrevista, o médico e comentarista esportivo Eduardo
Gonçalves de Andrade, o Tostão, um dos craques
da seleção brasileira campeã mundial em 1970, distingue no grande jogador:
— “O grande jogador tem a capacidade de
inventar o momento. E tem a antevisão do lance: quando recebe a bola, ele já
sabe tudo o que vai acontecer dali pra frente. Chega sempre primeiro que o
outro”, disse, em depoimento gravado originalmente para a série Futebol,
entre 1996 e 1998, da revista Piauí.
Lá atrás, próximo de encerrar sua
brilhante carreira nos gramados, Newton Santos — então ex-lateral esquerdo
convertido a quarto zagueiro — em entrevista à revista Manchete Esportiva, explicou
por que havia se tornado um excelente marcador de Pelé:
— "Eu me antecipo. Dou combate
antes do 'negão' pegar a bola, pois se ele a domina não há quem o impeça de
fazer uma jogada genial."
Cá com meus modestos botões de velho
militante apenas esforçado, mas com alguma capacidade de análise, na atual cena
política brasileira há carência de “grandes jogadores”.
Os fatos comandam as atitudes, quase
ninguém tem a capacidade de a eles se antecipar.
É o que Lênin, o genial líder da
Revolução de Outubro, na Rússia, caracterizava como se deixar ficar a reboque
dos acontecimentos.
Às vezes a bola quica na entrada da
área e ninguém chuta em gol.
Caso das forças de oposição ao governo
Temer — que se movem com a agilidade de um paquiderme diante da oportunidade de
ouro que o campo governista oferece, e não chuta em gol.
As chances de avançar os adversários
abrem exatamente pela dispersão em que ainda se encontram, carentes de uma
candidatura que a um só tempo tenha a confiança do mercado e os una.
O gol, no caso, seria construir uma
coalizão unitária para enfrentar as eleições presidenciais já no primeiro
turno, com chances reais de êxito, levando o pleito a um segundo turno no qual
uma frente ampla poderia vencer.
Isso mudaria qualitativamente os rumos
do País.
Mas falta quem se antecipe — como
aprenderam Tostão e Newton Santos. Por enquanto, dentre os pré-candidatos
à presidência situados à esquerda, apenas Manoela D’Ávila, do PCdoB, vem
apontando nessa direção.
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