O gênio universal de Guimarães Rosa
Editorial do portal
Vermelho
Guimarães Rosa, que teria completado 110 anos nesta
quinta-feira (27), é um dos nomes mais importantes da literatura. Muitos
dão-lhe a primazia, no Brasil, honra que ele rejeitaria pois, muito
corretamente, nem aceitava julgar seus colegas escritores. Quanto mais
classificá-los!
Guimarães Rosa, que se definia como “um sertanejo”, um “homem do sertão” que transformava em escrita aquilo que ao longo da vida pode aprender e viver no interior do Brasil – principalmente nas redondezas da mineira Cordisburgo, onde nasceu.
Guimarães Rosa se definia como um brasileiro, dono de uma brasilidade que se manifestava pelo cérebro, mas principalmente pelo coração.
Tinha a noção de justiça do sertanejo, noção que o levou, quando diplomata em Hamburgo, em plena Alemanha nazista, a proteger e ajudar a tirar das garras de Hitler judeus perseguidos pela Gestapo. “Foi alguma coisa assim” disse na entrevista dada ao jornalista alemão Günter Lorenz em 1965. “Eu, o homem do sertão, não posso presenciar injustiças. No sertão, num caso desses imediatamente a gente saca o revólver”, exagerou ele. “Precisamente por isso idealizei um estratagema diplomático, e não foi assim tão perigoso.”
Rosa enfatizou a responsabilidade social e política, no sentido amplo da palavra, do escritor. Um sentimento que foi além da vida real e figura nos livros maravilhosos que escreveu. Está presente na tragédia de Augusto Esteves, em Sagarana. Noção de justiça que também preside o “tribunal jagunço” de Grande Sertão: Veredas, organizado para julgar Zé Bebelo. Tribunal sertanejo comandado pelo desafeto Joca Ramiro. Que reforça a igualdade entre todos os jagunços naquele julgamento, quando diz a um deles: “Mas não é bem o caso, compadre João. Vocês dão o voto, cada um. Carece de dar…” (Grande Sertão: Veredas).
Democracia jagunça que contrasta com a que existia nas cidades de então, comandadas pela oligarquia de coronéis e grandes capitalistas.
Escritor brasileiro reconhecido mundialmente, Guimarães Rosa foi, sendo um homem de seu tempo, de todos os tempos. Sua noção de responsabilidade do escritor (social e política), seu sentimento de brasilidade, a inspiração profundamente realista de sua narração da vida brasileira, a finura da apresentação das contradições nacionais, são a marca de Guimarães Rosa. Da mesma maneira como o é o alegado “misticismo” do autor. As aspas se justificam: “Nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza”, explicou. “Quem cresce em um mundo que é literatura pura, bela, verdadeira, real deve algum dia começar a escrever, se tiver uma centelha de talento para as letras.”
Rosa manifesta o “misticismo” da palavra, ferramenta que usou para exprimir aquilo que percebeu mais com a emoção (o coração) que com a razão (o cérebro), como sugere a entrevista referida. Um coração e uma emoção que, tendo o tamanho do Brasil, inscreveram a obra rosiana no patrimônio literário da humanidade.
Guimarães Rosa, que se definia como “um sertanejo”, um “homem do sertão” que transformava em escrita aquilo que ao longo da vida pode aprender e viver no interior do Brasil – principalmente nas redondezas da mineira Cordisburgo, onde nasceu.
Guimarães Rosa se definia como um brasileiro, dono de uma brasilidade que se manifestava pelo cérebro, mas principalmente pelo coração.
Tinha a noção de justiça do sertanejo, noção que o levou, quando diplomata em Hamburgo, em plena Alemanha nazista, a proteger e ajudar a tirar das garras de Hitler judeus perseguidos pela Gestapo. “Foi alguma coisa assim” disse na entrevista dada ao jornalista alemão Günter Lorenz em 1965. “Eu, o homem do sertão, não posso presenciar injustiças. No sertão, num caso desses imediatamente a gente saca o revólver”, exagerou ele. “Precisamente por isso idealizei um estratagema diplomático, e não foi assim tão perigoso.”
Rosa enfatizou a responsabilidade social e política, no sentido amplo da palavra, do escritor. Um sentimento que foi além da vida real e figura nos livros maravilhosos que escreveu. Está presente na tragédia de Augusto Esteves, em Sagarana. Noção de justiça que também preside o “tribunal jagunço” de Grande Sertão: Veredas, organizado para julgar Zé Bebelo. Tribunal sertanejo comandado pelo desafeto Joca Ramiro. Que reforça a igualdade entre todos os jagunços naquele julgamento, quando diz a um deles: “Mas não é bem o caso, compadre João. Vocês dão o voto, cada um. Carece de dar…” (Grande Sertão: Veredas).
Democracia jagunça que contrasta com a que existia nas cidades de então, comandadas pela oligarquia de coronéis e grandes capitalistas.
Escritor brasileiro reconhecido mundialmente, Guimarães Rosa foi, sendo um homem de seu tempo, de todos os tempos. Sua noção de responsabilidade do escritor (social e política), seu sentimento de brasilidade, a inspiração profundamente realista de sua narração da vida brasileira, a finura da apresentação das contradições nacionais, são a marca de Guimarães Rosa. Da mesma maneira como o é o alegado “misticismo” do autor. As aspas se justificam: “Nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza”, explicou. “Quem cresce em um mundo que é literatura pura, bela, verdadeira, real deve algum dia começar a escrever, se tiver uma centelha de talento para as letras.”
Rosa manifesta o “misticismo” da palavra, ferramenta que usou para exprimir aquilo que percebeu mais com a emoção (o coração) que com a razão (o cérebro), como sugere a entrevista referida. Um coração e uma emoção que, tendo o tamanho do Brasil, inscreveram a obra rosiana no patrimônio literário da humanidade.
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