16 julho 2018

Crônica da vida cotidiana


Os muitos modos de dizer as coisas
Luciano Siqueira

Enquanto ponho ordem em minha biblioteca, separando livros e rasgando papéis agora inúteis, ouço no rádio entrevista com um cineasta que lança agora o seu primeiro longa metragem.

Verdade que pratico a atenção difusa, os olhos nos papéis e ou ouvidos na entrevista — portanto, correndo o risco da dispersão. 

Mas o dito cujo não consegue dizer claro as coisas. Ora pensei tratar-se de um documentário, ora de uma ficção no gênero aventura... 

As frases do entrevistado vão ficando pela metade. Ele nunca diz tudo o que deseja, ou que precisamos ouvir.

Comento com minha filha Tuca, cineasta:

— Tenho a impressão de que vocês estudam roteiro, direção, fotografia, som, montagem e tantas outras coisas para se tornarem bons profissionais do cinema; e também são treinados para responder perguntas apenas pela metade...

— Conflito de áreas, pai.

— Como assim?

— Provavelmente um artista dirá algo parecido em relação a vocês políticos.

— Não creio que a gente fale as coisas fracionadas, como vocês fazem.

— É que nossas respostas nem sempre podem ser precisas, lidamos com arte...

Pode ser. 

Mas ela mesma cita Lula como exemplo de político que fala as coisas de um jeito que todos entendem.

E eu cito Geraldo Alckmin como exemplo de político que fala linguagem da elite, que poucos entendem.

Ficamos por aí, porém cá com meus modestíssimos botões me pergunto se as pessoas de todas as áreas não deveriam falar simples, sem perda de conteúdo.

Eu mesmo quando médico residente, se me cabia acompanhar o pós-operatório de um paciente, me esforçava por explicar aos familiares (em geral gente humilde e pouco letrada) a natureza da enfermidade, o porquê da cirurgia e o prognóstico. Para que todos pudessem compreender.

Creio que seja daí que cultivei uma quase obsessão por falar claro e simples e escrever em tom coloquial é compreensível.

Afinal, comunicação é quando alguém fala e o outro entende, dizem os especialistas. 

Vale para as artes, a política, o amor e a convivência diária. 

Pois evitemos esses dialetos típicos da área de atuação de cada um e falemos a mesma língua pátria, tão bela e sonora!

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