19 setembro 2018

Deslizes na batalha eleitoral


Tudo tem seu tempo e seu lugar
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Em breve conversa com minha assessoria, veio à tona uma questão tão trivial quanto subestimada por muitos dos que estão na peleja eleitoral como candidato: tudo tem a sua hora e o seu lugar.

Ou seja, há gestos e atitudes que por mais sinceros ou bem intencionados, não cabem no calor da disputa.

Passou à história política brasileira a mancada de Fernando Henrique Cardoso, presunçoso que só ele, que às vésperas de um pleito municipal em São Paulo, aceitou o convite de jornalistas e posou na cadeira de prefeito, em 1985.

Na segunda-feira, teve o desprazer de ver eleito em seu lugar Janio Quadros. 

Uma lição e tanto. Entretanto, muitos são os candidatos, que por pura insensatez ou mesmo empáfia, fazem o que não devem na tentativa vã de criarem o clima de "já ganhou".

Em 2000, o incidente em que se envolveu o então prefeito Roberto Magalhães, candidato à reeleição, num conflito com militantes na orla de Boa Viagem, certamente contribuiu para que não vencesse o pleito no primeiro turno por menos de 0,2% dos votos.

Como se sabe, no segundo turno, perdeu para João Paulo, tendo o autor dessas linhas como vice-prefeito. 

Também é desaconselhável o gesto fora de hora apenas para agradar. 

Quando pré-candidato a prefeito do Recife em 2008 (mais tarde desistente em favor de João da Costa, do PT), repórteres de diversos órgãos de imprensa local estranharam a minha recusa em subir o morro para render homenagens a Nossa Senhora da Conceição.

— O senhor perderá votos, diziam.

— Perderei se praticar algum gesto artificial. Já fui ao Morro da Conceição muitas vezes, nunca no dia da festa religiosa.

Aprendi muito cedo que nosso povo distingue facilmente o que é sincero e o que não passa de demagogia. 

Na batalha atual, o que disse tal ou qual candidato ou candidata sobre temas relevantes comparece com muita frequência aos debates na TV e mesmo na propaganda de concorrentes. 

Alckmin, por exemplo, na dificuldade de alcançar os dois dígitos nas intenções de voto, mira seu concorrente à direita, o capitão Bolsonaro, mencionando várias de suas declarações e atitudes desastrosas.

No caso do capitão, não se trata de equívocos; são palavras e gestos sinceros, expressão do seu ideário de extrema direita. e que talvez lhe sejam fatais na hipótese de ir ao segundo turno, tamanha a rejeição que geram em parcelas majoritárias do eleitorado.

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