Ilustração: UOL
As pistas do método 'Cambridge Analytica' na
campanha de Bolsonaro
André
Barrocal, CartaCapital
Alta de
Bolsonaro e da rejeição a Haddad coincide com “roubo” de dados do Facebook.
Empresa de cibersegurança fez alerta às vésperas do primeiro turno
A campanha do
presidenciável da extrema-direita, Jair Bolsonaro (PSL), é uma guerrilha
virtual. O Ministério Público investiga se há um “esquema industrial” e pago de
disseminação de mentiras via internet, as fake news, o que é crime
eleitoral. A Folha noticiou que empresários bolsonaristas pagam até 12 milhões de reais para
difamar o PT via Whatsapp, o que também é crime, pois este ano está proibido o
financiamento patronal de candidatos.
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Será que o
bolsonarismo está por trás de um certo acontecimento de meados de
setembro, um momento em que o seu rival no duelo final de 28 de outubro, Fernando Haddad, do PT, mergulhava na
campanha e despontava como favorito?
Em 25 de
setembro, o Facebook anunciou ter sido hackeado. Em 12 de outubro, informou que
a invasão começou provavelmente em 14 de setembro. Foram “roubados” os dados de
400 mil usuários e, a partir desse “roubo”, os hackers obtiveram informações
sobre 30 milhões de pessoas.
Dentre as
vítimas, 29 milhões tiveram descobertos o número de telefone e o email. De
metade, os hackers conseguiram saber também: o nome da pessoa, gênero sexual,
idioma, estado civil, religião, cidade natal, data de nascimento e 15 últimas
pesquisas feitas na internet.
Há relação
entre o hackeamento do Facebook e a guerrilha digital de Bolsonaro?
A campanha do
ex-capitão repete estratégias verbais e operacionais de Donald Trump na disputa
pela Casa Branca em 2016. Um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, esteve em
agosto, em Nova York, com o principal estrategista de Trump na campanha, Steve Bannon.
A principal
maneira de as mensagens políticas de Bannon chegarem aos eleitores e
influenciá-los dependeu de “roubo” de dados do Facebook. Uma operação via Cambridge
Analytica (CA), um escândalo que veio a público na imprensa mundial em março
passado.
A CA foi
criada em 2014 por um bilionário americano, Robert Mercer, para ajudar
políticos conservadores nos EUA. Um dos colaboradores da empresa, Cristopher
Wylie, foi quem deu a resposta sobre como influenciar da maneira mais potente
os eleitores americanos.
Segundo Wylie,
era preciso montar um perfil psicológico do eleitorado, e a melhor fonte para
isso era o Facebook. Ele sabia que na Universidade de Cambridge, na Inglaterra,
havia pesquisas psicosociais a partir do comportamento das pessoas no Facebook.
Um dos
pesquisadores, Aleksandr Kogan, topou criar um aplicativo de celular e pagar
pessoas para testá-lo. O uso do app permitiu a Kogan “roubar” dados privados de
cerca de 280 mil usuários do Facebook e, com base neles, montar um banco
“psicológico” sobre 50 milhões de pessoas. Ele recebeu 1 milhão de reais pelo
serviço, uma ninharia perto do valor político do seu “produto”.
E o Brasil com
isso? A CA aterrissou aqui em 2017. Fez parceria com um publicitário baiano,
André Torretta, da Ponte Estratégia, e daí nasceu a CA Ponte. Em entrevistas,
Torretta dizia que teria de montar um banco de dados, pois não havia uma base
brasileira criada a partir do Facebook. A equipe de Bolsonaro sondou a CA Ponte
para trabalhar pelo deputado, mas Torretta foi contra.
Quando
estourou o escândalo mundial da CA, em março passado, o Ministério Público
brasileiro abriu um inquérito sobre a CA Ponte e chamou Torretta para depor. O
MP queria saber sobre o banco de dados da empresa. A investigação corre até
hoje sob sigilo.
Será que o
hackeamento do Facebook em setembro foi feito para montar um banco psicosocial
de dados para uso em favor de Bolsonaro? CartaCapital questionou o
Facebook sobre a nacionalidade das vítimas dos hackers, mas a empresa não quis
informar. Diz apenas que colabora com o FBI, a Polícia Federal dos EUA, na
investigação do caso. É sabido, porém que há muitos brasileiros
entre os atingidos.
Recorde-se: o
hackeamento aconteceu entre 14 e 25 de setembro. A evolução de Bolsonaro nas
pesquisas mostra que ele mudou de patamar depois disso.
No Ibope, por
exemplo, ele oscilou em torno de 28% entre 11 e 26 de setembro. A partir do dia
1o de outubro, mudou de patamar. Rompeu a
barreira dos 30%, alcançou 31%
Não foi só
isso. Enquanto Bolsonaro subia nas pesquisas, a rejeição de Haddad fazia o
mesmo. O petista havia entrada oficialmente na campanha em 11 de setembro, data
em que o PT o substituiu na Justiça eleitoral como candidato no lugar de Lula.
De 11 a 26 de
setembro, a rejeição a Haddad variou entre 23 e 27%. A partir de 1o de outubro, mudou de patamar: chegou a 38%
Nesse período
em que Bolsonaro mudou de patamar nas pesquisas e a rejeição a Haddad também,
houve as manifestações #elenão. Foi em 29 de setembro. Elas podem ter se
revertido a favor do deputado do PSL, mas talvez uma operação na web com dados
do Facebook possa ter ajudado.
Haddad já
disse publicamente que sua imagem foi abalada por uma campanha difamatória,
movida a mentiras, da parte das equipe de Bolsonaro. Em grupos de Whatsapp e no
Facebook, circularam mensagens a apontar o petista como uma espécie de
depravado anticristão, daí a repulsa dos evangélicos por ele ter disparado.
Será que essa
ação difamatória, lastreada naos atos #elenao, foi bem sucedida graças a um
banco psicosocial de dados de brasileiros montado a partir do hackeamento do
Facebook?
Em 4 de
outubro, três dias antes do primeiro turno da eleição daqui, uma empresa
americana de cibersegurança, a FireEye, parceira do governo dos Estados Unidos
na investigação de ameaças ao Tio Sam, informou à Folha que
havia hackers tentando interferir na eleição brasileira.
Seria através das redes sociais e da manipulação de medos das pessoas.
Manipulação de
medos foi o que a Cambridge Analytica fez na eleição de Donald Trump. Quem
disse isso foi Christopher Wylie, aquele nerd que ajudou a municiar a guerrilha
trumpista com a criação de um banco psicosocial de dados.
“Nós
exploramos o Facebook para colher milhões de perfis de pessoas. E construímos
modelos para explorar o que sabíamos sobre eles e direcionar seus demônios
interiores. Essa foi a base em que toda a empresa (Cambridge Analytica) foi
construída”, disse Wylie no jornal britânico The Guardian de
17 de março passado.
A atuação da
CA na eleição americana de 2016 tem sido investigada nos EUA. O ponto de
partida das investigações é se teria havido interferência de um governo
estrangeiro, no caso, o russo.
Hoje com uns
35 anos, Aleksandr Kogan, o pesquisador da Universidade de Cambridge que criou
o app de “roubo” de dados do Facebook, nasceu na antiga União Soviética. Foi em
uma região que hoje é um país independente, a Moldávia, situada na fronteira
entre Ucrânia e Romênia
Kogan é
descrito como alguém que já foi financiado pelo governo russo em suas
pesquisas. Em julho, durante a Copa do Mundo da Rússia, a rede de tevê
americana CNN noticiou que os dados do facebook “roubados” com o know-how de
Kogan foram acessados de dentro da Rússia.
E no Brasil?
Haverá alguma investigação das pistas sobre o uso de métodos da Cambridge
Analytica pela campanha de Jair Bolsonaro?
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