Mais do mesmo leva a lugar nenhum
Luciano Siqueira
Verdade que a vitória eleitoral da extrema direita no recente pleito presidencial ocorreu em razão da convergência de muitos fatores, que conformaram uma correlação de forças adversa ao campo democrático e progressista.
É certamente no brevíssimo segundo governo Dilma, com a má condução da economia, a péssima gestão política e a incapacidade de unir forças na resistência à onda conservadora de ultra direita, que já se levantava contra si, que se encontra o ponto de clivagem do ambiente que levou ao impeachment.
Força política hegemônica no governo, o Partido dos Trabalhadores e — há que se reconhecer — seu principal líder, o ex-presidente Lula não foram capazes de fazer uma leitura realista da nova situação em desenvolvimento.
Emblemático é o episódio da eleição do presidente da Câmara dos Deputados, em que o PT e a presidenta Dilma teimaram em desconhecer a correlação de forças real e insistiram numa candidatura própria, do já desgastado deputado Arlindo Chinaglia, que alcançou não mais do que um quarto dos votos, dando vitória ao arrivista Eduardo Cunha, que já pontificava como um dos artífices do golpe.
Desde então, diante de inúmeros episódios dessa natureza que se seguiram, pondo a prova a capacidade de resistência das forças democráticas, o hegemonismo petista jamais arrefeceu — culminando com a estreiteza no encaminhamento das eleições presidenciais.
O fracasso da proposta de uma frente ampla que pudesse obter êxito no pleito presidencial obviamente não pode ser atribuído exclusivamente ao PT, mas a proeminente responsabilidade dos petistas é evidente.
Agora, quando o desastre já ocorreu e um novo ciclo político conservador toma fôlego, são muitos os sinais de fragmentação das forças populares e progressistas, em parte como reflexo de uma insatisfação coletiva diante do persistente hegemonismo petista.
Ou seja, na concepção petista, a construção de ampla coalizão capaz de resistir à vaga ultra direitista há de ser inevitavelmente sob a liderança indiscutível do PT!
Nada mais infantil e inconsequente.
Claro que o peso específico do PT é irrecusável. Esse partido ainda detém prevalência no imaginário popular, sobretudo através da figura de Lula, ostenta a maior bancada de oposição no parlamento e ainda tem considerável inserção nos movimentos sociais.
Entretanto, a luta política no Brasil pós-pleito de outubro se dá num contexto novo, ainda não apreendido devidamente pelos principais atores em presença, particularmente as forças democráticas e de esquerda.
Recomeçar preservando os mesmos vícios leva a lugar nenhum.
É preciso antes de tudo abertura para compreender os novos fenômenos que desenham a cena política do país, botar os pés no chão, ir bem mais embaixo e a fundo na inserção junto ao povo e construir um ambiente renovado de diálogo entre as correntes oposicionistas.
Mais do mesmo, simplesmente, e a insistência na falsa equação “se não for o PT, será o dilúvio” significará submeter a nação a uma prolongada agonia.
Luciano Siqueira
Verdade que a vitória eleitoral da extrema direita no recente pleito presidencial ocorreu em razão da convergência de muitos fatores, que conformaram uma correlação de forças adversa ao campo democrático e progressista.
É certamente no brevíssimo segundo governo Dilma, com a má condução da economia, a péssima gestão política e a incapacidade de unir forças na resistência à onda conservadora de ultra direita, que já se levantava contra si, que se encontra o ponto de clivagem do ambiente que levou ao impeachment.
Força política hegemônica no governo, o Partido dos Trabalhadores e — há que se reconhecer — seu principal líder, o ex-presidente Lula não foram capazes de fazer uma leitura realista da nova situação em desenvolvimento.
Emblemático é o episódio da eleição do presidente da Câmara dos Deputados, em que o PT e a presidenta Dilma teimaram em desconhecer a correlação de forças real e insistiram numa candidatura própria, do já desgastado deputado Arlindo Chinaglia, que alcançou não mais do que um quarto dos votos, dando vitória ao arrivista Eduardo Cunha, que já pontificava como um dos artífices do golpe.
Desde então, diante de inúmeros episódios dessa natureza que se seguiram, pondo a prova a capacidade de resistência das forças democráticas, o hegemonismo petista jamais arrefeceu — culminando com a estreiteza no encaminhamento das eleições presidenciais.
O fracasso da proposta de uma frente ampla que pudesse obter êxito no pleito presidencial obviamente não pode ser atribuído exclusivamente ao PT, mas a proeminente responsabilidade dos petistas é evidente.
Agora, quando o desastre já ocorreu e um novo ciclo político conservador toma fôlego, são muitos os sinais de fragmentação das forças populares e progressistas, em parte como reflexo de uma insatisfação coletiva diante do persistente hegemonismo petista.
Ou seja, na concepção petista, a construção de ampla coalizão capaz de resistir à vaga ultra direitista há de ser inevitavelmente sob a liderança indiscutível do PT!
Nada mais infantil e inconsequente.
Claro que o peso específico do PT é irrecusável. Esse partido ainda detém prevalência no imaginário popular, sobretudo através da figura de Lula, ostenta a maior bancada de oposição no parlamento e ainda tem considerável inserção nos movimentos sociais.
Entretanto, a luta política no Brasil pós-pleito de outubro se dá num contexto novo, ainda não apreendido devidamente pelos principais atores em presença, particularmente as forças democráticas e de esquerda.
Recomeçar preservando os mesmos vícios leva a lugar nenhum.
É preciso antes de tudo abertura para compreender os novos fenômenos que desenham a cena política do país, botar os pés no chão, ir bem mais embaixo e a fundo na inserção junto ao povo e construir um ambiente renovado de diálogo entre as correntes oposicionistas.
Mais do mesmo, simplesmente, e a insistência na falsa equação “se não for o PT, será o dilúvio” significará submeter a nação a uma prolongada agonia.
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