Três uvas na taça de champanhe
Luciano Siqueira, no Vermelho
em 29/12/2011
Quem vive alegremente o réveillon há de ter
experimentado pelo menos uma das muitas “simpatias” destinadas a explicitar
desejos e a atrair bons fluidos para realizá-los no novo ano que se inicia.
Aqui em São José da Coroa Grande, praia do litoral sul de Pernambuco
fronteiriça com Alagoas, onde há anos vivemos em família a passagem de ano, faz
parte de nossa rica e variada mise-en-scène colocar três uvas numa taça de
champanhe, fechar os olhos, e em segredo fazer três pedidos.
“E se você fosse o presidente da República, pediria o quê?”, me perguntam. – Ah, amigo, minhas pretensões seriam ousadas, do tamanho das pretensões que teria se estivesse ocupando de verdade a cadeira da presidenta Dilma.
Primeiro, desejaria que em 2012 pudesse reunir força suficiente para romper os grilhões da macroeconomia, estabelecendo uma relação real/dólar consentânea com os interesses nacionais nas trocas externas; acelerando a queda da taxa básica de juros, para gerar ambiente mais favorável aos investimentos produtivos; e dando um basta definitivo no entra e sai semi-desregulado de capitais estrangeiros de natureza especulativa que contamina nossa economia.
Segundo, almejaria base social e política suficiente para arrostar o oligopólio da mídia, que cerceia o direito constitucional dos brasileiros à informação. Seja através de legislação apropriada, seja pela constituição de sistema estatal (não governamental) capaz de concorrer com os grupos reacionários oferecendo à população conteúdos qualitativamente superiores e abertura ao debate amplo e esclarecedor em torno dos problemas candentes do país.
Por fim, a terceira uva da taça de champanhe representaria um anseio que todo governante realmente democrático e comprometido com a transformação social há de acalentar – o de contar com a voz das ruas em favor do programa de mudanças que realiza. Porque a essência das possibilidades em política repousa na correlação de forças – e a pressão organizada da sociedade, mormente dos segmentos populares é indispensável no Brasil dos nossos dias à consolidação de uma tendência progressista capaz de fortalecer a Nação mediante projeto de desenvolvimento soberano e socialmente avançado.
Mas não ocultaria esses três desejo, antes os proclamaria para que todos soubessem de modo a despertar o apoio e a solidariedade ativa de milhões. E teria certamente um Ano Novo próspero e feliz.
* Médico, escritor, vice-prefeito do
Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
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