21 fevereiro 2019

Por onde caminhar


Wladyslaw Strzeminski
Veredas que se abrem
Luciano Siqueira


Na correlação de forças oriunda do último pleito, adversa ao campo democrático, o governo Bolsonaro se beneficia de uma expectativa ainda positiva de parte da maioria da população. O que é normal em todo início de governo.

Prestes a fazer dois meses, entretanto, o próprio Planalto abre veredas por onde a oposição pode caminhar numa intensa e prolongada luta destinada a reverter a situação, adiante. 

As trapalhadas que se sucedem envolvendo o clã familiar, ministros como o da Educação, o das Relações Exteriores, o do Meio Ambiente, a da Mulher e Direitos Humanos, o da Saúde, o ex-ministro Bebianno e o próprio presidente e seu partido, o PSL, o chamuscam e o enfraquecem.

Foi preciso que uma trinca de generais (segundo se noticia), ocupantes de postos na Esplanada dos Ministérios, tenha advertido o presidente das conseqüências negativas do rasteiro quiproquó com o ex-ministro Bebianno, via WhatsApp e Twitter, para que se tivesse o desenlace da briga.

Concomitantemente, o governo recebeu da Câmara o primeiro sinal de descontentamento em relação ao modo precário como se relaciona o Planalto com sua base parlamentar, derrotando-o na propositura que alargava a escalões intermediários o poder de tornar secretos e inacessíveis documentos públicos.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni e o deputado líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO) parecem sofrer crescente rejeição da parte das legendas aliadas e do próprio PSL.

Agora, com a apresentação da PEC da Previdência, com pompa e circunstância, tendo o presidente atravessado a Praça dos Três Poderes e levado o documento em mãos aos presidentes da Câmara e do Senado, aos olhos dos brasileiros e brasileiros que sobrevivem do próprio trabalho, enfim, o governo começa a mostrar a sua cara.

Se na campanha eleitoral Bolsonaro jamais apresentou um programa, nem disse com clareza suas intenções (nefastas) em relação à soberania nacional e aos direitos fundamentais do povo, agora com o ataque à Previdência Pública — sistema de proteção social respeitado no mundo monteiro — passa a dizer, com clareza, a que veio.

Este é um mote concreto, imediato, de grande ressonância na opinião pública que se oferece à oposição.

Por aí é possível avançar na resistência popular e democrática, desde que se supere a divisão, que ainda persiste; e se lute com os pés no chão, se ultrapasse os limites da denúncia e do humor crítico e se chegue junto ao povo com o esclarecimento didático e compreensível acerca das iniciativas do governo.  

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