Decadência prematura
Luciano Siqueira
Estar na oposição não se confunde com desejar que o circo pegue fogo — pois assim seria desejar o pior para o País, em prejuízo, sobretudo da maioria dos brasileiros, o povo.
Luciano Siqueira
Estar na oposição não se confunde com desejar que o circo pegue fogo — pois assim seria desejar o pior para o País, em prejuízo, sobretudo da maioria dos brasileiros, o povo.
Isto
posto, não há como deixar de registrar essa espécie de senilidade antecipada do
governo Bolsonaro, com pouco mais de dois meses de atividade.
A
grande mídia hostilizada pelo presidente, salvo a Rede Record, torce pelo
sucesso da agenda econômica ultra liberal e por isso mesmo a cada dia se
inquieta mais ainda com os desacertos do governo e não esconde o noticiário
largamente negativo.
E
é tudo verdade, diga-se. Basta que se anote aleatoriamente notícias
veiculadas de ontem para hoje.
A
começar pela intenção do núcleo palaciano de proceder mais uma mudança no
esquema de comunicação do governo, na busca de ultrapassar os limites das
tuitagens do próprio presidente e dos seus diletos filhos e deter a queda
acelerada de aprovação verificado nos centros urbanos, em São Paulo principalmente.
No
relacionamento com o Congresso Nacional, condição elementar para a boa
governança, além do governo ainda não haver montado sua própria base de apoio,
embora em princípio conte com maioria numérica, repetem-se cenas como a desta terça-feira,
em que o dito superministro da Economia, Paulo Guedes, desistiu de última hora
de comparecer à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara — por ter sido
informado de que a maioria iria questioná-lo — e seu substituto, secretário da Presidência,
Rogério Marinho, rechaçado, sequer teve a chance de falar.
Mesmo
as bancadas que por enquanto dizem apoiar a reforma da Previdência já
anteciparam que não votarão a favor das mudanças propostas em relação ao
Benefício de Prestação Continuada (BPC) e às novas regras de aposentadoria
rural.
De
quebra, em votação relâmpago, a Câmara aprovou
em dois turnos, por ampla maioria, a proposta de emenda constitucional que
retira do governo poder sobre o Orçamento. O texto ainda vai ao Senado,
mas já fez seus estragos.
Já
a reunião de Paulo Guedes com os governadores — em princípio parte interessada
na reforma previdenciária — também não surtiu bons efeitos para o governo.
E
o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, veio a público corrigir
o capitão presidente, que determinara às Forças Armadas comemorarem amplamente
o golpe militar de 1964, no próximo dia 31, desautorizando a expressão
"comemoração".
Enquanto
isso, em meio à confusão geral, o piloto sumiu: Bolsonaro abandonou o gabinete
(de crise) para ir ao cinema com a sua digníssima esposa. Como se preferisse
tapar os ouvidos e fechar os olhos ao invés conduzir a aeronave sob
turbulências.
Diante
dessa decadência prematura, cabe à oposição — ainda relativamente dispersa,
dividida — uma postura atenta, responsável e consequente no sentido de erguer
um dique às intenções antipopulares do governo e preservar nosso frágil e
ameaçado regime democrático.
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