27 março 2019

O capitão em areia movediça


Decadência prematura
Luciano Siqueira

Estar na oposição não se confunde com desejar que o circo pegue fogo — pois assim seria desejar o pior para o País, em prejuízo, sobretudo da maioria dos brasileiros, o povo. 
Isto posto, não há como deixar de registrar essa espécie de senilidade antecipada do governo Bolsonaro, com pouco mais de dois meses de atividade.
A grande mídia hostilizada pelo presidente, salvo a Rede Record, torce pelo sucesso da agenda econômica ultra liberal e por isso mesmo a cada dia se inquieta mais ainda com os desacertos do governo e não esconde o noticiário largamente negativo.
E é tudo verdade, diga-se. Basta que se anote aleatoriamente notícias veiculadas de ontem para hoje. 
A começar pela intenção do núcleo palaciano de proceder mais uma mudança no esquema de comunicação do governo, na busca de ultrapassar os limites das tuitagens do próprio presidente e dos seus diletos filhos e deter a queda acelerada de aprovação verificado nos centros urbanos, em São Paulo principalmente.
No relacionamento com o Congresso Nacional, condição elementar para a boa governança, além do governo ainda não haver montado sua própria base de apoio, embora em princípio conte com maioria numérica, repetem-se cenas como a desta terça-feira, em que o dito superministro da Economia, Paulo Guedes, desistiu de última hora de comparecer à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara — por ter sido informado de que a maioria iria questioná-lo — e seu substituto, secretário da Presidência, Rogério Marinho, rechaçado, sequer teve a chance de falar.
Mesmo as bancadas que por enquanto dizem apoiar a reforma da Previdência já anteciparam que não votarão a favor das mudanças propostas em relação ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e às novas regras de aposentadoria rural. 
De quebra, em votação relâmpago, a Câmara aprovou em dois turnos, por ampla maioria, a proposta de emenda constitucional que retira do governo poder sobre o Orçamento. O texto ainda vai ao Senado, mas já fez seus estragos.
Já a reunião de Paulo Guedes com os governadores — em princípio parte interessada na reforma previdenciária — também não surtiu bons efeitos para o governo. 
E o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, veio a público corrigir o capitão presidente, que determinara às Forças Armadas comemorarem amplamente o golpe militar de 1964, no próximo dia 31, desautorizando a expressão "comemoração". 
Enquanto isso, em meio à confusão geral, o piloto sumiu: Bolsonaro abandonou o gabinete (de crise) para ir ao cinema com a sua digníssima esposa. Como se preferisse tapar os ouvidos e fechar os olhos ao invés conduzir a aeronave sob turbulências.
Diante dessa decadência prematura, cabe à oposição — ainda relativamente dispersa, dividida — uma postura atenta, responsável e consequente no sentido de erguer um dique às intenções antipopulares do governo e preservar nosso frágil e ameaçado regime democrático.
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