17 abril 2019

Decadência tática


Recuar e dar a bola ao adversário é a atual escola brasileira de futebol

Técnicos dos principais times do país seguem modelo de sucesso do Corinthians

Tostão, na Folha de S. Paulo

Caro Juca e colegas, não fiz nenhuma comparação do nível de qualidade entre mim e Rodriguinho, muito bom jogador para o atual futebol que se joga no Brasil. Escrevi apenas que Rodriguinho, por jogar com a cabeça alta, sem olhar para a bola, ter uma testa grande, um início de calvície e jogar no Cruzeiro, na mesma posição que eu, me fez lembrar do Tostão. Características técnicas e físicas são diferentes de talento. Não tenho nenhuma falsa modéstia. Reconheço o lugar, as virtudes e as limitações do atleta que fui.
Quarta-feira (17) é dia de muito futebol. O Grêmio, pelo futebol que mostrou nos últimos anos e por jogar em casa, deveria ser o favorito, mas não é. Há um equilíbrio. Luan está fora, Tardelli ainda não brilhou, e André é apenas um razoável centroavante. Do Inter, gosto muito do meio-campo, formado por Dourado, mais centralizado, e por um meio-campista de cada lado, Edenílson e Patrick, que marcam e atacam.
É dia de ver jogos do Liverpool e do Manchester City, os dois melhores times ingleses, candidatos ao título da Champions League.
Todos os técnicos do futebol brasileiro elogiam bastante Pep Guardiola e Jürgen Klopp, mas todos ignoram a estratégia dos dois. Preferem a mesmice, o mais fácil e os vícios acumulados durante anos. O conhecimento existe para ser difundido.
O Manchester City possui vários pilares de sustentação. Um é tentar recuperar a bola rapidamente onde a perdeu. Faz isso muito bem. Está sempre com a bola perto do gol e diminui os contra-ataques.
Outro pilar é a formação de um trio ofensivo de cada lado, formado por um lateral, que fecha para ser um armador, próximo ao volante, de um ponta aberto e de um meio-campista, que avança para receber a bola na intermediária adversária. São frequentes as triangulações, com alguém penetrando para receber a bola nas costas dos defensores e, daí, passá-la para o meio da área, para o centroavante ou para outro jogador que chega pelo outro lado.
O centroavante, além de fazer gols, é a referência, o facilitador, para os dois trios, assim como o volante centralizado, além de marcar e proteger os zagueiros, é o facilitador para o início das jogadas ofensivas, com passes precisos.
O Liverpool é diferente do Manchester City. Joga em um ritmo intenso e alucinante. As jogadas são mais rápidas e diretas em direção ao gol. Como pressiona e recupera a bola no campo adversário, o trio do meio-campo se aproxima do trio da frente. Firmino sai para receber a bola e deixa os espaços para a penetração em diagonal dos dois atacantes pelos lados, Salah e Mané. Alguém disse que Firmino é o melhor camisa 9 brasileiro com cara de camisa 10.
Houve no Brasil, a partir do sucesso do Corinthians, há mais de dez anos, uma evolução na organização defensiva, com a formação de duas linhas de quatro, com pouco espaço entre elas. Isso é eficiente e importante. Os técnicos brasileiros seguiram esse modelo. Porém, se esqueceram de aprender a atacar. Em vez de trocar passes, desde a defesa, e chegar com muitos jogadores ao ataque, priorizam chutões e jogadas aéreas.
É compreensível, como acontece na Europa e no Brasil, que os times pequenos —ou os clubes grandes com times pequenos, como o Vasco e outros—, recuem e deem a bola ao adversário, para contra-atacar. Mas é inadmissível que grandes equipes usem essa estratégia e destruam a qualidade do espetáculo. É a atual escola brasileira de futebol.
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