Mario Zanini
Pelo estilo, derrota do
Santos foi a vitória dos perdedores
Cresceu a sensação de que o estilo
santista é o futebol que a maioria quer ver
Tostão, na Folha de S. Paulo
De
vez em quando, brinco com o "titês".
Sei que Tite não gosta. O "titês" é parte da nova linguagem
do futebol, como mostraram muito bem, no domingo (7), os jornalistas
da Folha Bruno
Rodrigues e Toni Assis.
A
nova linguagem é ampla e rebuscada. Alguns exemplos: "externos
desequilibrantes" (pontas que driblam), "propor o jogo" (ter o
domínio da bola), "jogo reativo" (de contra-ataques), "futebol
apoiado" (de troca de passes), "dar amplitude" (ter um jogador
aberto de cada lado), "marcação alta" (adiantada) e "marcação
baixa" (recuada). Há ainda as expressões da moda, como "atacar a
bola", "atacar o espaço", "espetar o passe",
"jogo espetado", "oportunizar" e tantos outros.
As
palavras da nova terminologia são como um código técnico, como em todas as
profissões. Às vezes, são feitas para não serem entendidas. Outras vezes,
encobrem a falta de clareza, de conhecimento, e a incapacidade de explicar os
detalhes técnicos e táticos do que acontece durante o jogo.
Muitos
treinadores, jovens ou veteranos, estudiosos, sérios, adotam discursos
modernos, mas que não correspondem à realidade. André Jardine,
ex-técnico do São Paulo e, agora, da seleção brasileira sub-20, dizia, antes
das partidas, que o time iria jogar um futebol apoiado, trocar muitos passes,
propor o jogo, ser um time compacto. Tentava, mas o que se via em campo eram
chutões, jogadas aéreas, enormes espaços entre os setores e outros vícios
medíocres, acumulados durante longo tempo, que os técnicos, mesmo quando
desejam, não conseguem se ver livres.
Há
também os treinadores mais
veteranos, com uma linguagem moderna, que, mesmo atualizados, só
acreditam no que um dia deu certo. Esses são os piores.
Neste
meio de semana, recomeçou a Copa Libertadores,
com suas incertezas e contradições. No Campeonato Brasileiro do ano passado, quando o
Palmeiras só vencia, escrevi que, em muitas daquelas partidas, não
havia superioridade, mas que os gols saíam no momento certo. Quando não há essa
imposição técnica, aumentam muito os riscos de a bola, de repente, em vez de
bater na trave e entrar, começar a sair.
É
o que tem ocorrido nas três últimas partidas. Não vi nenhuma diferença
importante na maneira de jogar e na qualidade coletiva do ano passado.
Atlético-MG
e Grêmio precisam vencer para terem chance de classificação. O Galo precisa
definir melhor uma estratégia de jogo. É um time irregular e que depende de
espasmos individuais. No Grêmio, Renato Gaúcho tirou Luan, para que se recupere
fisicamente. Ou foi por motivos técnicos, ainda mais que Renato tem grande
esperança no jovem Jean Pyerre?
O
futebol e, especialmente, a política brasileira, de todos os lados, vivem de
contradições. Somos todos contraditórios, uns mais que os outros. Ser
independente, um observador neutro e ter bom senso, tornou-se raro.
Vitória dos perdedores
O
Santos sufocou o Corinthians durante os 90 minutos no Pacaembu. Ganhou por 1 a 0 e
só não fez mais por causa de Cássio e pela falta de um atacante de talento. Não
se justifica Rodrygo entrar só no segundo tempo.
Enquanto
isso, o Corinthians se classificou jogando todo atrás, dando chutões, sem
conseguir trocar dois passes, pois o Santos tomava a bola com facilidade.
Após
a partida, cresceram a sensação e a convicção, fora os que querem apenas
torcer e os resultadistas, de que o estilo do Santos é o futebol que a
maioria quer ver. Foi uma vitória dos perdedores.
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