13 abril 2019

Pobreza tática


Francisco Eduardo
Defensivo, futebol jogado no Brasil parece estar em busca da morte
Com jogos com poucos gols fica ainda mais difícil lotar estádios
Juca Kfouri, Folha de S. Paulo

Defesa! Defesa! Defesa! 
As torcidas americanas na NBA são unânimes em pedir aos seus quintetos que se defendam.
Por aqui, há quem elogie a atitude como a verdadeira compreensão do espírito do jogo, sem perceber que time algum é campeão apenas por ter a melhor defesa, mas porque se defender bem permite ter mais a bola e atacar melhor.
O defensivismo como opção leva um governador amalucado a apostar nos snipers, outro a prometer tiro na testa e o que se vê é apenas a criminalidade aumentar fruto do desemprego —e um inocente ser morto pelo exército depois de seu carro levar 80 balas.
Os dois finalistas do campeonato estadual menos desinteressante, mais rico e mais equilibrado do país, levam ao paroxismo a famosa frase de Carlos Alberto Parreira, “o gol é detalhe”.
Corinthians marcou 14 gols em 16 jogos. O São Paulo 16 —um por jogo.
Para a rara leitora e o raro leitor terem ideia, no Campeonato Inglês, o mais interessante, mais rico e mais disputado dos campeonatos nacionais, o líder Liverpool tem média de 2,2 gols por partida e o vice-líder Manchester City tem média de 2,6 —83 gols em 32 jogos.
Será que tais números têm a ver com o fato de a média de público na Premier League estar na casa dos 38 mil torcedores por jogo e a do estadual paulista ser de 8.000?
Porque por mais que o torcedor queira vencer, tudo tem limite.
Peguemos as semifinais do Paulistinha.
Palmeiras e São Paulo jogaram por 180 minutos e não fizeram um mísero golzinho
A emoção ficou para a decisão na marca do pênalti, e com torcida única!
Santos e Corinthians jogaram sob chuva uma partida em que só um time estava disposto a fazer gol, o Santos.
Tudo bem, dirá você, o 0 a 0 classificava o Corinthians.
Mas isso justifica se negar a jogar? 
Limitar-se a finalizar apenas três vezes, nenhuma delas a ponto de exigir uma defesa do goleiro Vanderlei?
O Santos só fez seu gol no fim, depois de chutar 22 vezes e de exigir, pelo menos, seis grandes defesas de Cássio.
Prova de que o Corinthians nem sequer se defendeu bem, porque, se tivesse, o goleiro não teria trabalhado tanto, como trabalham os goleiros de times pequenos.
Aliás, quem melhor se resguardou foi mesmo o Santos, porque ficou com a bola 70% do tempo, porque acuou o rival em sua área, porque não correu riscos.
Verdade que Corinthians chutou dentro do gol santista, e sete vezes, mas na emocionante cobrança dos pênaltis, também com torcida única, pressão maior para o time mandante.
Ganhou a vaga na decisão, não o respeito de quem gosta de futebol, pelo menos dos que vão aos estádios não para ver disputa de pênaltis.
Pode vir a ser o campeão mais uma vez e a estrela e competência de Fábio Carille serão justamente cantadas em prosa e verso. 
Mas, aos 45 anos, ele é jovem demais para se acomodar no resultadismo que, a longo prazo, está para o futebol assim como os snipers do sargentão Witzel, ou os tiros na testa do playboy Dória, estão para os direitos humanos e para o combate à bandidagem: crimes contra a arte do futebol e contra a humanidade.
Se os treinadores no Brasil não passarem a se preocupar com a qualidade do jogo que entregam, logo mais os estádios estarão mais vazios ainda e seus salários passarão a ser diretamente proporcionais ao que os torcedores resultadistas estarão dispostos a pagar.
Estádios vazios e prisões lotadas estão longe de ser solução para qualquer coisa.
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