29 maio 2019

Recorrência


Messiânicos desastrados
Luciano Siqueira

Nas últimas seis décadas, o Brasil sofreu duros revezes nas mãos de governantes imbuídos de patético messianismo.
Nos anos sessenta, Janio Quadros se elegeu prometendo acabar com a corrupção. Uma vassoura era seu símbolo de campanha.
Final dos anos oitenta, Fernando Collor venceu garantindo que aniquilaria com os "marajás", detentores de altos cargos no serviço público que recebiam salários altos.
Agora, com a promessa de armar os cidadãos de bem e liberar plenamente o aparato policial para matar bandidos ou suspeitos, Jair Bolsonaro se elegeu presidente.
Além da demagogia rasteira, mais similitudes ente os três: incompetência administrativa, envolvimento com mal feitos (em surdina), voluntarismo inconsequente e absoluto desprezo pelos demais poderes da República, o Parlamento e o Judiciário. 
Janio renunciou denunciando a existência de "forças ocultas", que não lhe permitiram governar.
Collor sofreu impeachment em grande parte como resultante da subestimação da necessidade de diálogo entre o Executivo e o Legislativo. 
Há poucos dias, Bolsonaro divulgou pessoalmente texto atribuído a um ex-candidato a vereador no Rio de Janeiro, em que aparece vítima das forças da "velha política", que estariam inviabilizando seu governo.
O que impressiona hoje é que, com tão pouco tempo de governo, a desconfiança se expanda a ritmo acelerado e tome conta, inclusive, de segmentos com os quais o presidente assume seus compromissos fundamentais — como o mercado financeiro.
Nada parece dar certo. Dezenas de decretos se mostram contaminados por inconstitucionalidades. Intenções anunciadas pelo presidente são desmentidas por ministros. A grande mídia se sucede em editorais pondo em dúvida a capacidade do governante. Previsões do PIB vêm sendo refeitas sucessivas vezes, sempre para menos.
Ontem, no Senado, quando da votação da MP da reestruturação do ministério, Bolsonaro chegou a enviar carta para convencer os senadores a aprovar a proposta —fato inusitado, que revela mais uma vez a fragilidade da base parlamentar governista.
Em condições normais, esse apelo, em nome do presidente, caberia ao líder do governo ou ao ministro encarregado da articulação política.
Há que se perguntar: a História se repetirá mais uma vez?
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