Messiânicos desastrados
Luciano Siqueira
Nas últimas seis décadas, o Brasil sofreu duros revezes nas mãos de governantes imbuídos de patético messianismo.
Luciano Siqueira
Nas últimas seis décadas, o Brasil sofreu duros revezes nas mãos de governantes imbuídos de patético messianismo.
Nos anos sessenta, Janio Quadros se elegeu prometendo acabar com a
corrupção. Uma vassoura era seu símbolo de campanha.
Final dos anos oitenta, Fernando Collor venceu garantindo que
aniquilaria com os "marajás", detentores de altos cargos no serviço
público que recebiam salários altos.
Agora, com a promessa de armar os cidadãos de bem e liberar
plenamente o aparato policial para matar bandidos ou suspeitos, Jair Bolsonaro
se elegeu presidente.
Além da demagogia rasteira, mais similitudes ente os três:
incompetência administrativa, envolvimento com mal feitos (em surdina),
voluntarismo inconsequente e absoluto desprezo pelos demais poderes da
República, o Parlamento e o Judiciário.
Janio renunciou denunciando a existência de "forças
ocultas", que não lhe permitiram governar.
Collor sofreu impeachment em grande parte como resultante da
subestimação da necessidade de diálogo entre o Executivo e o Legislativo.
Há poucos dias, Bolsonaro divulgou pessoalmente texto atribuído a
um ex-candidato a vereador no Rio de Janeiro, em que aparece vítima das forças
da "velha política", que estariam inviabilizando seu governo.
O que impressiona hoje é que, com tão pouco tempo de governo, a
desconfiança se expanda a ritmo acelerado e tome conta, inclusive, de segmentos
com os quais o presidente assume seus compromissos fundamentais — como o
mercado financeiro.
Nada parece dar certo. Dezenas de decretos se mostram contaminados
por inconstitucionalidades. Intenções anunciadas pelo presidente são
desmentidas por ministros. A grande mídia se sucede em editorais pondo em
dúvida a capacidade do governante. Previsões do PIB vêm sendo refeitas
sucessivas vezes, sempre para menos.
Ontem, no Senado, quando da votação da MP da reestruturação do
ministério, Bolsonaro chegou a enviar carta para convencer os senadores a
aprovar a proposta —fato inusitado, que revela mais uma vez a fragilidade da
base parlamentar governista.
Em condições normais, esse
apelo, em nome do presidente, caberia ao líder do governo ou ao ministro
encarregado da articulação política.
Há que se perguntar: a História
se repetirá mais uma vez?
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