Ilustres resistentes à
inovação
Luciano Siqueira
Uma conversa que não me atrai é a da crítica às novas tecnologias como culpadas do esgarçamento das relações humanas. O vilão da vez, como se sabe, é o smartphone.
Verdade que se tornou cena convencional grupos familiares em torno de uma mesa de restaurante, ou no recôndito do lar, cada um entretido com o aparelhinho e quase nenhuma comunicação verbal entre as pessoas.
Porém antes de condenar o smartphone como principal culpado, por que não nos perguntarmos o porquê de as pessoas conversarem pouco e se quedarem ensimesmadas na maior parte das horas úteis?
Parece até que somos milhões de dependentes da imagem e do som do aparelhinho, e assim padecentes de uma doença grave, sem força psicológica para a cura.
Parece, mas não é.
A doença é anterior a essa nova ferramenta, ela própria precedida de modelos mais rudimentares, assim como de computadores, máquinas de escrever elétricas, TV, rádio e tudo mais que veio antes.
Li numa crônica do ex-craque campeão mundial de futebol Tostão que usa o celular apenas para fazer ou receber ligações, desprovido dos mecanismos que permitem ver imagens, ouvir músicas, acessar redes sociais, etc..
Mais radical o astro de nossa música Caetano Veloso, que simplesmente confessou, numa entrevista televisiva, jamais ter possuído um aparelho celular — pelo que foi efusivamente aplaudido pelo público presente, como se estivesse a se anunciar como um caso raro de vitória pessoal sobre terrível vício.
Eu remo no sentido inverso.
Confesso minha admiração pela pólvora, pela roda, pelo velocípede, pela bicicleta, pelo rádio, pela TV, pela internet...
Ou seja: gosto de tudo o que facilita a vida da gente, tornando mais ágeis e rápidos atos corriqueiros como nos deslocarmos de um lugar a outro ou nos comunicarmos com outra pessoa a distâncias imensuráveis.
Agora, se o diálogo olhos nos olhos e o calor do abraço e do aperto de mão vêm se tornando supérfluos ou desprezíveis, aí sim: precisamos debater as causas subjetivas dessa decadência das relações humanas.
No Brasil de agora, por exemplo, sob o impacto de uma onda conservadora que se apoia no ódio e no sectarismo, ampliam-se os temas sobre os quais as pessoas evitam conversar sob pena de brigarem ao primeiro sinal de divergência.
Numa perspectiva mais larga, creio que nas próximas décadas os seres humanos estarão devidamente entediados com tanta tecnologia, sem deixar de usá-las, e voltarão a valorizar o bate papo na esquina e o namoro na praça.
Pois assim caminha a Humanidade: em movimentos cíclicos, de tempos em tempos retornando ao ponto de partida e retomando a trajetória em busca de novo salto qualitativo.
Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2VhdfBf
Luciano Siqueira
Uma conversa que não me atrai é a da crítica às novas tecnologias como culpadas do esgarçamento das relações humanas. O vilão da vez, como se sabe, é o smartphone.
Verdade que se tornou cena convencional grupos familiares em torno de uma mesa de restaurante, ou no recôndito do lar, cada um entretido com o aparelhinho e quase nenhuma comunicação verbal entre as pessoas.
Porém antes de condenar o smartphone como principal culpado, por que não nos perguntarmos o porquê de as pessoas conversarem pouco e se quedarem ensimesmadas na maior parte das horas úteis?
Parece até que somos milhões de dependentes da imagem e do som do aparelhinho, e assim padecentes de uma doença grave, sem força psicológica para a cura.
Parece, mas não é.
A doença é anterior a essa nova ferramenta, ela própria precedida de modelos mais rudimentares, assim como de computadores, máquinas de escrever elétricas, TV, rádio e tudo mais que veio antes.
Li numa crônica do ex-craque campeão mundial de futebol Tostão que usa o celular apenas para fazer ou receber ligações, desprovido dos mecanismos que permitem ver imagens, ouvir músicas, acessar redes sociais, etc..
Mais radical o astro de nossa música Caetano Veloso, que simplesmente confessou, numa entrevista televisiva, jamais ter possuído um aparelho celular — pelo que foi efusivamente aplaudido pelo público presente, como se estivesse a se anunciar como um caso raro de vitória pessoal sobre terrível vício.
Eu remo no sentido inverso.
Confesso minha admiração pela pólvora, pela roda, pelo velocípede, pela bicicleta, pelo rádio, pela TV, pela internet...
Ou seja: gosto de tudo o que facilita a vida da gente, tornando mais ágeis e rápidos atos corriqueiros como nos deslocarmos de um lugar a outro ou nos comunicarmos com outra pessoa a distâncias imensuráveis.
Agora, se o diálogo olhos nos olhos e o calor do abraço e do aperto de mão vêm se tornando supérfluos ou desprezíveis, aí sim: precisamos debater as causas subjetivas dessa decadência das relações humanas.
No Brasil de agora, por exemplo, sob o impacto de uma onda conservadora que se apoia no ódio e no sectarismo, ampliam-se os temas sobre os quais as pessoas evitam conversar sob pena de brigarem ao primeiro sinal de divergência.
Numa perspectiva mais larga, creio que nas próximas décadas os seres humanos estarão devidamente entediados com tanta tecnologia, sem deixar de usá-las, e voltarão a valorizar o bate papo na esquina e o namoro na praça.
Pois assim caminha a Humanidade: em movimentos cíclicos, de tempos em tempos retornando ao ponto de partida e retomando a trajetória em busca de novo salto qualitativo.
Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2VhdfBf
Nenhum comentário:
Postar um comentário