Inferno astral em
apenas seis meses
Luciano Siqueira
Como todo governo no início, natural que as expectativas
positivas fossem majoritárias na população, em geral desinformada quanto à
agenda econômica do governo Bolsonaro.
O mercado, então, este mais do que esclarecido, mentor dessa
agenda, alimentava a ilusão de que o estilo autoritário-atabalhoado do novo
presidente, e a maioria eleitoral obtida nas urnas, o credenciassem a um êxito
que Michel Temer não foi capaz de obter.
Além disso, pesava uma espécie de “tradição” brasileira de
recuperação relativamente rápida das atividades econômicas, pós-recessão.
Agora, seis meses passados desde a posse de Bolsonaro e da
entronação de Paulo Guedes e seus Chicago Boys no pretenso superministério da
Economia, as sucessivas previsões do PIB recuam sucessivamente.
Essa equipe econômica, de modo incrivelmente burro – como assinalou
em artigo recente o economista Luiz Gonzaga Belluzzo -, aposta todas as fichas
num suposto equilíbrio das contas públicas, tendo como pedra de toque uma
imaginada retenção de recursos através da reforma da
Previdência.
E quanto mais se restringem os investimentos públicos, mais
a economia afunda.
Investidores privados se retraem, a indústria perde competitividade e
se atrasa em inovação, os serviços também encolhem, o desemprego aumenta e o
consumo idem.
Entrementes, o presidente da República coleciona declarações
e gestos sem nexo, ou com o único nexo de satisfazer os chamados “nichos” de
apoio com que conta entre os cerca de vinte por cento da população efetivamente
situados à direita.
Alguns analistas chegam a dizer que essa “estratégia” do
presidente traduz o seu instinto de sobrevivência, na medida em que se sente
ameaçado pelo fracasso administrativo.
Como assim?
Se em apenas um semestre o governante já se vê angustiado em
razão de sua própria incompetência, aonde iremos chegar?
Na verdade, são muitos os fatores de estremecimento das
bases do atual governo, em geral endógenos.
Falta rumo, grandeza e habilidade. Inclusive falta a
compreensão de como devem ser as relações entre os chamados poderes da
República.
Tanto que, de modo precariamente contraditório, o governo conta
com maioria numérica no Parlamento, mas não constrói sua base de sustentação parlamentar.
E agora, como uma espécie de pano de fundo de caráter
explosivo, as revelações do site Intercept_ acerca do comportamento ilegal e
politicamente fraudulento do então juiz, hoje ministro Sergio Moro e
procuradores da força tarefa da Lava Jato, chamuscam o presidente beneficiário
das irregularidades judiciais que afastaram o ex-presidente Lula das eleições
de outubro.
Será isso o que se chama de inferno astral?
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