Na Argentina, Messi é um herói sem resultado
Tostão, na
Folha de S. Paulo
Após a primeira rodada da Copa América,
de pouquíssimo
público e de grandes arrecadações, por causa do exorbitante preço
dos ingressos, das cinco seleções consideradas mais fortes (Brasil, Uruguai,
Colômbia, Chile e Argentina, por causa de Messi), só a Argentina foi
mal e perdeu.
O técnico da Colômbia, o português Carlos Queiroz, pode
acrescentar o que faltava, uma alma mais competitiva e pragmática, sem perder a
técnica e a habilidade.
Brasil, Uruguai, Colômbia e Chile mostraram algo em comum, a
pressão em quem está com a bola, para, rapidamente, recuperá-la. A Colômbia não
deixou a Argentina trocar três passes seguidos, de uma intermediária à outra. Messi e
Agüero ficaram isolados. Os times europeus, há tempos, usam essa marcação. O Palmeiras é a equipe brasileira que mais
pressiona e recupera a bola.
A tendência mundial é a de unir as duas estratégias, pressionar
e recuar para fechar os espaços, em um mesmo jogo, de acordo com o momento da
partida.
A antiga justificativa de que marcar por pressão provoca muito
desgaste físico não faz mais sentido, já que os jogadores são muito bem
preparados fisicamente e os elencos são bons e grandes. Quem está cansado é
substituído. A outra alegação de que, quando se adianta a marcação, se abre
muitos espaços na defesa pode ser evitada se os zagueiros e o goleiro estiverem
bem posicionados. Essas justificativas são álibis para técnicos medrosos e
preguiçosos.
Nesta quarta (19), a Argentina enfrenta o Paraguai, que empatou
e jogou mal contra o Qatar. Porém, uma característica marcante dos paraguaios é
jogar mal contra os times medianos e dificultar bastante para as melhores
seleções. Sabe fazer uma retranca. Por mais que seja a descrença com a seleção
da Argentina, há sempre a esperança de que Messi faça maravilhas e que o time
seja campeão.
Sem querer divagar, mas divagando, a frustração e a
tristeza de Messi em não dar um título à Argentina me lembra o
mito de Sísifo, grande obra do filósofo Albert Camus. Sísifo, personagem grego,
é condenado pelos deuses a levar uma pedra até o cume da montanha. A pedra sobe
e desce, pelo peso. E, assim, sucessivamente. Sísifo tem consciência de sua
limitação, de sua derrota e de seu destino, diante da angústia da finitude
humana. A consciência o torna superior ao seu destino e salva-o para viver.
Messi, assim como Sísifo, tem consciência de sua incapacidade de
dar um título importante à Argentina.
Sofre muito com isso, cada vez mais, mas não desiste, mesmo que
as derrotas comprometam seu prestígio. Isso o torna também mais humano e
melhor, dentro e fora de campo. Messi é o herói sem resultado.
BUROCRÁTICO
O Brasil dominou, pressionou, trocou muitos passes, teve muita
posse de bola, mas faltou a
jogada individual, surpreendente, perto da área.
Richarlison, pela direita, entrava pelo centro, e Daniel Alves
não avançava. Não havia jogada por aquele setor. No segundo tempo, entrou
Gabriel Jesus da esquerda para o meio, e David Neres passou a jogar pela
direita. O time continuou torto, sem um atacante pelo lado, agora pela esquerda,
e embolado pelo meio. Éverton entrou e fez duas belas jogadas, como na partida
anterior.
A Venezuela marcou muito bem, com duas linhas de quatro,
recuadas, próximas, além de um volante entre as duas linhas. Ela não é mais
aquele time fraquíssimo do passado.
Assim como no jogo contra a Bolívia, o Brasil foi burocrático e
previsível.
Acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2Fmldjc
Leia
mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
Nenhum comentário:
Postar um comentário