Burocracia digital no
Pão de Açúcar
Luciano Siqueira
Refiro-me ao assim chamado supermercado – uma das maiores
redes do gênero no País. Que me tem como cliente por uma questão de comodidade:
há uma loja não muito distante da minha casa; dispõe de caixas eletrônicos “24
horas” que funcionam e oferece polpas de frutas em saquinhos de quatro unidades.
Polpa de fruta compro semanalmente, e me impressiona como a maioria
dos supermercados oferece apenas aqueles sacos com dez unidades. Se sua família
for pequena - que é o meu caso -, fica obrigado a consumir o mesmo sabor dias
seguidos, salvo se dispuser de um freezer onde possa estocar. Aqui em casa não
temos.
Também me atraem, esporadicamente, ofertas de vinho e uísque
com desconto para “cliente mais”.
Fui cliente “menos” a vida inteira, mas há alguns meses me inscrevi,
baixei o aplicativo e quando a oferta parece muito vantajosa, arrisco.
Mas tem coisas que não me agradam.
Uma delas é o rigor com que a rede Pão de Açúcar mantém suas
toaletes sempre sujas, fedorentas e não raro sem papel toalha ou com o enxugador
a vapor quebrado. Igual a suas congêneres, pelo menos no Recife.
Arrogância de quem se sente seguro de sua superioridade
sobre as feiras livres e as bodegas e não teme perder clientes.
Hoje, justo na loja que frequento, fui vítima da “burocracia
digital”.
A guisa de “cortesia” há um caixa para atendimento
programado. Você calcula o tempo que levará para fazer suas compras e, pelo
aplicativo, marca a hora exata em que fará o pagamento.
Eu tinha em mãos tão somente dois saquinhos de polpa de
frutas, vi o bendito caixa livre e me dirigi a ele. A funcionária não aceitou
fazer a operação. “Se o senhor não programou no seu celular, não posso atender”,
sentenciou.
Insisti, argumentei com o óbvio, não havia ninguém mais do
que eu para o atendimento, tinha pressa, os outros caixas estavam com filas
grandes... Em vão. A norma é rígida: entre a minha presença física e o registro
no aplicativo, vale o aplicativo!
Pensei se tratar de uma interpretação excessivamente rígida
da funcionária. Mas não é, conforme me asseverou o cidadão atendido
imediatamente antes de mim. Ele já passara por situação semelhante.
Restou-me devolver os saquinhos de suco à prateleira e me
recolher à minha insignificância de “cliente mais”.
Seguramente, um “cliente mais contrariado”.
[Ilustração: Charge de Matirena]
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