07 julho 2019

Crônica do cotidiano


Burocracia digital no Pão de Açúcar
Luciano Siqueira

Refiro-me ao assim chamado supermercado – uma das maiores redes do gênero no País. Que me tem como cliente por uma questão de comodidade: há uma loja não muito distante da minha casa; dispõe de caixas eletrônicos “24 horas” que funcionam e oferece polpas de frutas em saquinhos de quatro unidades.

Polpa de fruta compro semanalmente, e me impressiona como a maioria dos supermercados oferece apenas aqueles sacos com dez unidades. Se sua família for pequena - que é o meu caso -, fica obrigado a consumir o mesmo sabor dias seguidos, salvo se dispuser de um freezer onde possa estocar. Aqui em casa não temos.

Também me atraem, esporadicamente, ofertas de vinho e uísque com desconto para “cliente mais”.

Fui cliente “menos” a vida inteira, mas há alguns meses me inscrevi, baixei o aplicativo e quando a oferta parece muito vantajosa, arrisco.

Mas tem coisas que não me agradam.

Uma delas é o rigor com que a rede Pão de Açúcar mantém suas toaletes sempre sujas, fedorentas e não raro sem papel toalha ou com o enxugador a vapor quebrado. Igual a suas congêneres, pelo menos no Recife.

Arrogância de quem se sente seguro de sua superioridade sobre as feiras livres e as bodegas e não teme perder clientes.

Hoje, justo na loja que frequento, fui vítima da “burocracia digital”.

A guisa de “cortesia” há um caixa para atendimento programado. Você calcula o tempo que levará para fazer suas compras e, pelo aplicativo, marca a hora exata em que fará o pagamento.

Eu tinha em mãos tão somente dois saquinhos de polpa de frutas, vi o bendito caixa livre e me dirigi a ele. A funcionária não aceitou fazer a operação. “Se o senhor não programou no seu celular, não posso atender”, sentenciou.

Insisti, argumentei com o óbvio, não havia ninguém mais do que eu para o atendimento, tinha pressa, os outros caixas estavam com filas grandes... Em vão. A norma é rígida: entre a minha presença física e o registro no aplicativo, vale o aplicativo!

Pensei se tratar de uma interpretação excessivamente rígida da funcionária. Mas não é, conforme me asseverou o cidadão atendido imediatamente antes de mim. Ele já passara por situação semelhante.

Restou-me devolver os saquinhos de suco à prateleira e me recolher à minha insignificância de “cliente mais”.

Seguramente, um “cliente mais contrariado”.

[Ilustração: Charge de Matirena]

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