É preciso tirar a máscara
Tostão, na
Folha de S. Paulo
O zagueiro Leandro Castán, do Vasco, que atuou vários anos na
Europa, disse, no programa Bem Amigos, do SporTV, que falta a muitos jogadores
brasileiros mais amadurecimento emocional e mais compreensão da estratégia de
jogo e de comportamento profissional.
Penso que existe uma exagerada dependência dos jogadores aos
treinadores, paizões, supervalorizados e que se tornam os principais
responsáveis pelas vitórias e pelas derrotas.
Os atletas, em vez de procurar soluções em alguns
instantes decisivos do jogo, ficam à espera dos “professores”.
Há um grande número de jovens promessas que não se transformam
nos craques que pareciam ser porque foram mal avaliados —confundem habilidade
com talento— e porque não tiveram lucidez e equilíbrio emocional para enfrentar
os perigos do futebol e da vida.
Uma das funções dos treinadores e
dos sistemas táticos é controlar os devaneios individualistas e valorizar o
coletivo. Isso é importante. Por outro lado, um dos sentimentos mais presentes
e decisivos na conquista do sucesso é a ambição de fazer individualmente o
melhor. O futebol e a vida são feitos de contradições.
Vivemos também a época do futebol midiático, dos melhores
momentos, da supervalorização dos lances individuais e da construção de heróis
e de vilões a cada jogo.
A sociedade do espetáculo gosta muito mais de festejar e
descartar do que de futebol.
Na Europa, com o desenvolvimento da ciência esportiva nas
últimas décadas, foi feito um planejamento para melhorar a qualidade do jogo e
do espetáculo.
Houve diminuição da violência, nos gramados, nas arquibancadas e
fora dos estádios, do número de faltas, de tumultos, e melhorou o conforto para
o torcedor e a eficiência e a beleza do jogo.
O futebol tornou-se mais prazeroso, emocionante e
lucrativo. A importação dos melhores jogadores sul-americanos e de outros
continentes contribuiu para esse crescimento.
Enquanto isso, no Brasil, houve uma estagnação que atingiu todos
os setores de atividade do futebol. Todos precisamos evoluir.
Muitos conceitos ultrapassados são repetidos, e ainda aproveitam
para usar os álibis de que não existem verdades no futebol e de que cada um tem
sua opinião.
Os jogadores habilidosos, rápidos e dribladores, no momento
certo, devem ser incentivados, mas é necessário ajudá-los a ter mais equilíbrio
emocional, a melhorar a técnica e a fazer escolhas mais corretas. Não basta ser
rápido e habilidoso. Essa é uma das razões de muitas derrotas brasileiras.
O 7 a 1 foi atípico, inesperado, mas
escancarou nossas deficiências. Não sabíamos disso. A queda foi aos poucos e
progressiva. De repente, levamos um susto. É o que acontece quando alguém, um
dia, se olha no espelho e descobre que envelheceu.
“Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não o
fiz.
Conheceram-me logo por quem não era, e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao
espelho, já tinha envelhecido” (Fernando Pessoa).
Após o 7 a 1, o futebol brasileiro tem tentado tirar a máscara,
mas há uma indefinição sobre o que colocar no lugar. Há várias possibilidades e
tentativas. Tenho esperanças.
Há muitos jovens bons de
bola, técnicos sérios, promissores e estudiosos, e alguns dirigentes
e empresários que, para não perder a fonte, tentam unir o lucro com a qualidade
do espetáculo. Mas temo que o futuro não chegue a tempo.
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