A Escola de Chicago não viaja bem
É
surpreendente que mentes tão medíocres e toscas como os atuais comandantes da
economia brasileira tenham sido alunos de Chicago na época de Friedman, pouco
absorveram do seu refinamento intelectual e transportaram suas ideias ao Brasil
embrulhadas em papel de padaria
André
Motta Araújo, Jornal GGN
Uma
combinação de má fé, insanidade, estupidez e ignorância alega que o País vai
crescer com ajuste fiscal, a arrecadação cai e isso justifica mais cortes
orçamentários, sob o eufemismo de “contingenciamentos”. Mais cortes reduzem a
atividade econômica e a arrecadação cai mais, aí se tornam necessários mais
cortes, em um círculo infernal sem fim, como se isso fosse ciência e não fé
numa seita fundamentalista enterrada pelo mundo, menos no Brasil.
Aí aparece em um mês um micro-crescimento de emprego, rojões são
comemorados pela GLOBONEWS, cujo programa FATOS E VERSÕES desta semana parecia
ter sido feito para o Canadá, tais os sorrisos de satisfação de Cristiana Lobo
pela ótima situação da economia brasileira, segundo sua “análise”.
Micro
variações estatísticas não significam tendência, são da natureza de um
organismo vivo, como é a economia de um grande País. Até doentes terminais têm
momentos de melhora antes do último suspiro. NENHUMA recessão dura cinco anos,
quando isso acontece há um persistente erro de manejo da política econômica, há
algo de profundamente errado na operação da política monetária que induz o País
a andar para trás.
O que o País NÃO CRESCEU nestes cinco anos, comparando-se com a
média de países como Peru, Paraguai, Bolívia e Colômbia, mostra que o Brasil
EMPOBRECEU em 11% do PIB pelo que não cresceu, algo inacreditável comparando-se
com períodos em que crescia mesmo com alta inflação e crises cambiais mas sem a
praga daninha que destrói os fundamentos de nossa política econômica
especialmente desde 1994. A presença no comando da economia de “economistas de
mercado” ligados ao mundo financeiro de Nova York, um biotipo mortal para
qualquer economia que pretenda ter um projeto nacional para toda a população.
A
ESCOLA DE CHICAGO MAL EXPLICADA
A cúpula do comando atual da economia brasileira se gaba de ter
cursado o departamento de economia da Universidade de Chicago, cujo maior
doador de recursos foi o primeiro John Rockefeller. Essa escola de economia, ao
contrário das escolas de economia da Costa Leste, Harvard, Princeton, Yale,
MIT, John Hopkins, Columbia, tem um viés ideológico como marca registrada,
tornou-se uma seita para os neoliberais do mundo, enquanto as demais grandes
escolas americanas são ecléticas e não identificadas com uma ideologia fixa.
Chicago
representa não só uma escola de economia, é também uma ideologia política
misturada às lições de economia. Sua época mais gloriosa nasceu com a segunda
fase da Escola Monetarista de Milton Friedman. A primeira escola monetarista de
Irving Fisher terminou em desgraça, quando esse então famoso economista disse,
duas semanas antes da quebra da bolsa em 1929, que “a economia dos EUA nunca
esteve tão forte e teremos anos de prosperidade pela frente”. Com o “crash” de
24 de outubro de 1929 essa profecia liquidou com a reputação de Fisher para
sempre e desmoralizou a primeira Escola Monetarista, reinventada nos anos 60
por Milton Friedman no departamento de economia da Universidade de Chicago.
Narrei com mais detalhes essa trajetória da segunda escola monetarista
em vários capítulos de meu livro “MOEDA E PROSPERIDADE”, de 900 páginas. Milton
Friedman era um grande economista, com nome consagrado na sua obra mais
conhecida História Monetária dos Estados Unidos, escrito com Anne
Schwartz, outra grande economista falecida depois de Friedman, ambos com mais
de 90 anos.
Friedman
ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1976 e teve grande influência no governo
Reagan e no relançamento de uma sub-ideologia conhecida como “neoliberalismo”.
Mas, ao contrário da visão pedestre, Friedman era mais que um neoliberal, tinha
inteligência superior para criar conceitos que seus seguidores não querem
lembrar, Friedman foi o pai intelectual da ideia de uma “bolsa família” para os
mais pobres e tinha visões avançadas sobre drogas e outros temas sociais.
É
surpreendente que mentes tão medíocres e toscas como os atuais comandantes da
economia brasileira tenham sido alunos de Chicago na época de Friedman, pouco
absorveram do seu refinamento intelectual e transportaram suas ideias ao Brasil
embrulhadas em papel de padaria.
No Chile, a aplicação das ideias de Chicago levou o País a um desastre econômico e social que levaram à
expulsão dos “economistas de Chicago”, com a queda do Ministro da Fazenda
Sergio de Castro, após uma crise cambial que levou a economia chilena à ruína
completa, com a previdência capitalizada levando à miséria, até hoje, os idosos
chilenos. Um projeto maluco e sem sentido em países emergentes, onde pobres não
tem sobra para esse tipo luxo.
Política muito parecida com o plano Paulo Guedes foi
aplicada à Argentina no Governo Carlos Menem, onde o Ministro
todo poderoso da economia era Domingo Cavallo. Ao fim da gestão Cavallo, que
privatizou tudo, até o jardim zoológico de Buenos Aires, a economia da
Argentina estava destruída.
Assim
como certo vinhos, a Escola de Chicago viaja mal fora do meio oeste americano,
onde é hoje peça de museu, depois da mega crise financeira de 2008, quando o
desprezado ESTADO salvou a economia de mercado. Logo o Estado, que segundo a
teoria de Chicago não deveria atrapalhar o mercado.
[Ilustração: Theo van Doesburg]
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