Líder de quem?
Luciano Siqueira
Natural que um cidadão alçado à presidência de um país ganhe
status de líder. Mesmo numa sociedade tão dividida como o Brasil de agora.
E presume-se que essa liderança se dê sobre parcelas
expressivas da população, até como elemento de autoridade política.
O capitão Jair Bolsonaro não é um líder desse quilate. Obteve
a maioria dos votos válidos no segundo turno do pleito presidencial em outubro,
com vantagem de cerca de dez milhões de votos sobre o seu oponente, Fernando
Haddad, mas em pouco mais de duzentos dias de governo vê decair seus índices de
aprovação num ritmo sem precedentes.
Agora, informa o Datafolha, um terço dos brasileiros tem opinião
similar à do presidente quando ele vomita impropérios de toda ordem – atacando ambientalistas,
homenageando a ditadura militar, mostrando-se indiferente ao massacre no presídio
de Altamira (PA), com 62 mortos e assim por diante.
No quesito avaliação do governo, apenas 33% da população
considera o seu governo bom ou ótimo.
Normalmente, qualquer que seja a inclinação política e
ideológica, o governante cuida de conquistar novas parcelas da população com o
fim de melhorar seu índice de aprovação.
Seja pelo valor político intrínseco disso, seja para que
preserve a sua autoridade perante os demais poderes da República e a opinião
pública internacional.
Bolsonaro, entretanto, age de modo diferente: repete suas
diatribes à exaustão, contentando-se com a aprovação do seu nicho de
apoiadores, alimentados pelas “milícias cibernéticas” que cuidam de replicar
suas falas.
Não é um dado positivo. Revela desprezo pelo exercício da
democracia, que requer a formação de consensos em torno do governante. Sobretudo
num país em crise e marcado pela dispersão de sentimentos e ideias.
Se o presidente considera possível governar com esse um terço
de aprovação e com a submissão do Parlamento e a conivência da mídia
corporativa, pode estar enganado.
Na medida em que a crise se arrasta e leve consigo todo um
cortejo de agravamento das condições de sobrevivência da grande maioria da
população, vai se formando uma consciência inicialmente difusa, e adiante
organizada, de resistência que poderá – se convergir para um mesmo leito no
campo democrático – interromper a aventura bolsonarista em 2022.
Quem viver verá.
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