24 agosto 2019

Uma crônica do cotidiano


Não foi. mas poderia ter sido
Luciano Siqueira


Natural que quando a idade avança a memória não seja a mesma. Nem tudo é lembrado como exatamente foi, e as reminiscências sempre são afetadas pelo olhar mais maduro (e às vezes inventivo) de hoje.

Tudo bem: a memória é criativa e pode ser razoavelmente analítica. 

Mas não precisa exagerar.

Um velho conhecido, que vejo raramente, me encontra na padaria, na manhã de uma segunda-feira, na fila do caixa. Eu pronto para mais um dia de trabalho, ele de bermudas, jeitão de em férias. 

— Apenas uma semana de folga, explica. Hoje já me dou essa permissão...

— Merece. Você tem trabalhado a vida inteira, muita coisa já fez. 

— E como fiz! E quando não fiz, dei a ideia.

Aí enveredou por uma espécie de delírio criativo.

Diz-se o realizador da primeira corrida de pedestres do Recife, sabe-se lá quando aconteceu, e ter chegado em primeiro lugar seis vezes antes dos trinta anos de idade!

Alvirrubro, fundou a primeira torcida organizada do Clube Náutico Capibaribe.

Introduziu a disciplina resistência de materiais no curso de engenharia da Universidade Federal de Pernambuco.

A requalificação da orla de Boa Viagem é obra da Prefeitura, mas a ideia foi dele, assim como a primazia de vencer, pela primeira vez aqui na província, uma competição de pára-quedismo...

Mais não disse, e "não fez", porque o interrompi delicadamente ao chegar a minha vez de pagar o pão e, finalmente, cuidar dos meus afazeres.

— E essa semana de folga, vai viajar?, tive tempo de perguntar.

— Vou à Serra Gaúcha conferir se a Casa Valduga está pondo em prática uma ideia minha.

Arre! Uma mente assim tão criativa bem que poderia ser aproveitada para solucionar uns tantos problemas que afligem a Humanidade! 

Ou representar o Brasil numa competição mundial de invencionices. 

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