01 setembro 2019

Arte e ousadia


Cada um faz de seu jeito
Tostão, Folha de S. Paulo

Hoje é dia de festa no Maracanã, no confronto em Flamengo e Palmeiras, dois fortes candidatos ao título do Campeonato Brasileiro. 
Há outros bons jogos, como Cruzeiro contra Vasco e Corinthiansversus Atlético, separados apenas por um ponto e que têm grandes chances de fazerem a final da Copa Sul-Americana.
Após dois jogos entre brasileiros pela Libertadores, Renato Gaúcho e Jorge Jesus têm sido bastante elogiados, com razão, enquanto Luiz Felipe Scolari e Odair Hellmann, muito criticados, merecidamente.
Porém, isso não significa que os técnicos perdedores são os péssimos dos péssimos e que os vencedores são os máximos dos máximos.
Na eliminação para o Grêmio, o Palmeiras, além dos erros técnicos e táticos, mostrou fragilidade emocional, paralisado em campo, surpreendentemente, por ser comandado pelo grande chefe Felipão, embora os fatores psicológicos tenham sido também marcantes no 7 a 1. 
O Palmeiras, com Felipão, foi eliminado, sucessivamente, nos últimos dois anos, da Copa do Brasil, da Libertadores e até do Paulista.
Tenho a impressão que os atletas brasileiros, na média, são mais frágeis emocionalmente nas decisões do que os europeus e até que os argentinos. Em vez de buscarem soluções nas adversidades do jogo, os jogadores ficam paralisados, à espera das ordens do professor, do paizão.
Scolari errou feio nas mudanças do intervalo. O centroavante Luiz Adriano, contratado como reforço e que jogava bem, foi para a ponta direita, onde ficou perdido, enquanto Deyverson brigava com a bola no centro do ataque. 
O Palmeiras possui vários meias de ligação caros, que não se firmam na posição. Nem poderiam, já que a bola não passa por eles.
Odair também errou ao não arriscar nada desde o início, com medo de levar um gol, para, depois, tentar fazer dois, e errou novamente, quando, a dez minutos para o fim, trocou um zagueiro por um atacante, uma ousadia suicida, já que o Inter pressionava e poderia fazer o segundo. Sem o zagueiro, o Flamengo empatou.
Já Renato Gaúcho acertou ao mostrar que o Grêmio sabe jogar com e sem a bola. No segundo tempo, ganhando por 2 a 1, recuou e deu a bola para o Palmeiras, que não sabia o que fazer com ela.
Jorge Jesus também acertou ao mudar novamente o desenho tático da equipe, com a escalação de Arrascaeta, pela direita (costuma jogar pela esquerda), de Éverton Ribeiro pelo meio (geralmente, atua pela direita) e de Bruno Henrique, pela esquerda (costuma fazer dupla, pelo meio, com Gabigol). Além disso, escalou o habilidoso e ofensivo Gerson de segundo volante, o que também deu certo.
Os treinadores são importantíssimos, pelo comando, pela estratégia e por dar condições coletivas para os jogadores atuarem bem, mas, a principal razão de Grêmio e Flamengo vencerem está na qualidade dos atletas e nas escolhas feitas durante as partidas. O Flamengo, após a chegada de Jorge Jesus, trouxe vários jogadores de grande destaque.
Renato Gaúcho merece ainda mais elogios pelo trabalho de preparação de jovens promessas para substituir os melhores que vão embora. Matheus Henrique possui características de Maicon e de Arthur. 
Renato parece um artista, brincando, sonhando e lapidando suas obras, à espera do momento certo para mostrá-las ao público. Já Jorge Jesus parece um artista inquieto, explosivo, insatisfeito, que mistura as partes, até chegar ao que deseja.
Cada um faz de seu jeito. O maior compromisso de um artista é com sua arte.
[Ilustração: Fúlvio Pennacchi]
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