08 setembro 2019

Fundamentos táticos


Guardiolistas e simeonistas
Tostão, Folha de S. Paulo

No segundo semestre de 1969, há 50 anos, a seleção, sob o comando de João Saldanha, ganhou do Paraguai por 1 a 0, no Maracanã, com o maior público pagante da história do futebol, mais de 183 mil pessoas, e se classificou para o Mundial de 1970.
No mesmo período, o homem desceu na Lua, começou o Jornal Nacional da TV Globo, artistas geniais faziam músicas belíssimas a cada semana, a nefasta ditadura continuava presente no país, além de tantos outros fatos marcantes e históricos.
Nas Eliminatórias de 1969 e na Copa de 1970, já com a direção de Zagallo, houve uma revolucionária preparação científica.
Foi o início da ciência esportiva no futebol brasileiro e da eterna discussão entre o talento individual e o coletivo, o jogo programado e o imprevisível, o desempenho e o resultado, o jogo ofensivo e o defensivo, a ciência e a arte e tantas outras questões. Os dois lados são essenciais. O corpo não vive sem a alma.
O mundo e o futebol mudaram. Hoje, basicamente, existem duas estratégias de jogo, com inúmeras variáveis.
Uma, usada por poucos técnicos, os guardiolistas, prefere ter o domínio da bola e do jogo, pressionar quem estiver com a bola, para recuperá-la, e envolver o adversário com troca de passes e triangulações, enquanto a outra, utilizada pelos simeonistas, prioriza a segurança, a marcação mais recuada, posicionada, o jogo reativo, o contra-ataque. As duas estratégias são pragmáticas, querem vencer, cada uma de seu jeito.
Entre os guardiolistas e os simeonistas e entre eles próprios, há graduações, variações e particularidades. Ninguém é igual ao outro. Felipão e Mano Menezes, dois simeonistas, são diferentes. Felipão gosta do jogo vibrante, de alternar a marcação individual com a por setor, de bolas longas, aéreas e rápidas em direção ao gol, enquanto Mano Menezes, mais calculista, prioriza a marcação recuada, posicionada, repetitiva, e a troca de passes.
O kloppismo é uma variação do guardiolismo. Possuem aspectos iguais e diferentes. O Liverpool, dirigido por Klopp, é um time mais emocional, mais veloz para chegar ao gol, enquanto o Manchester City, comandado por Guardiola, preocupa-se mais com a troca curta de passes e o domínio da bola e do jogo.
A final da Copa do Brasil será entre o kloppista Tiago Nunes e o simeonista Odair Hellmann. A seleção, com Tite, é uma mistura de estilos.
Jorge Jesus e Sampaoli estão muito próximos do guardiolismo. Carille é um simeonista. Cuca transita entre vários estilos.
Na quarta-feira, o Grêmio, comandado por Renato Gaúcho, que está mais próximo do guardiolismo, foi atropelado pelo Athletico, do kloppista Tiago Nunes. Além da ausência de Everton, faltou Maicon, o jogador que controla a bola. O mesmo tinha ocorrido no segundo tempo, contra o Palmeiras, que não aproveitou.
No outro jogo, o Inter, dirigido pelo simeonista Odair Hellmann, dominou o Cruzeiro, comandando por Rogério Ceni, à procura de uma identidade, além de ter errado na escalação e nas substituições. Jadson é fraco, em qualquer posição, e Henrique, de zagueiro, não dá.
Para ser um ótimo treinador, não basta ter boas ideias. É preciso escolher certo e fazer com que os jogadores executem bem o que foi planejado. Não dá também para avaliar e comparar treinadores e jogadores apenas pelo número de títulos conquistados, pois há dezenas de fatores envolvidos nos resultados. O futebol é uma mistura de ciência, mistérios e acasos.
[Ilustração: Henri Rosseau]
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