Economia digital e democracia
Rodrigo Medeiros, Jornal GGN
Recentemente,
a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, em
inglês) publicou um interessante documento chamado “Digital Economy Report
2019” (aqui).
Novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial, inevitavelmente
levarão a uma grande mudança no mercado de trabalho, incluindo o
desaparecimento de empregos em alguns setores e a criação de oportunidades em
outros, em grande escala.
A
economia digital demandará habilidades novas, uma nova geração de políticas de
proteção social e novas relações entre trabalho e lazer. Esse tempo irá
requerer um grande investimento em educação, enraizado no aprendizado contínuo.
O documento da Unctad busca examinar as implicações da economia digital
emergente para os países em desenvolvimento em termos de criação e captura de
valor. Nesse contexto, destacam-se os EUA e a China por responderem por 90% da
capitalização de mercado das 70 maiores plataformas digitais, enquanto a África
e a América Latina somam apenas 1%. De acordo com a Unctad, “alguns dos atritos
comerciais atuais refletem a busca de domínio nas áreas de tecnologia de fronteira”.
Nesse mesmo sentido, a perspectiva de acirramento de uma guerra comercial entre
os EUA e a China deveria provocar maiores reflexões na intelligentsia
brasileira.
A
expansão global da economia digital cria oportunidades e desafios sociais. O
importante tema da transformação digital, por exemplo, está colocado na agenda
das organizações produtivas de bens e serviços, inclusive no Brasil. As lógicas
das economias de escala e de escopo ainda são válidas nas disputas por mercados
nos quais efeitos de redes e concentração operam. Plataformas digitais globais,
por sua vez, tomaram medidas para consolidar posições competitivas, incluindo a
aquisição de concorrentes em potencial e a expansão de produtos ou serviços
complementares.
Na
cadeia global digital, muitos países podem se encontrar em posições
subordinadas, com valor e dados concentrados em poucas plataformas de firmas
multinacionais líderes. Quando se pensa em inteligência artificial, automação,
impressão 3D, big data e internet das coisas (IoT, em inglês),
as consequências da dependência tecnológica já são bem conhecidas nas relações
entre o centro e a periferia da economia mundial. Não convém esquecer no
presente as relevantes questões de privacidade individual e espionagem
industrial.
Um
projeto de desenvolvimento em países retardatários demandará que os seus
líderes pensem fora da zona de conforto. Segundo a Unctad, “a evolução da
economia digital exige pensamento econômico não convencional e análise de
políticas”. Do ponto de vista democrático, tendo em vista a evolução do
contexto político no Brasil desde junho de 2013, causam preocupação o atraso
nacional nesse campo da economia digital e o projeto político de
desnacionalização da economia brasileira.
Nesse sentido, infelizmente, a
precarização do mercado laboral brasileiro e o processo de desmonte da rede
federal de ensino, pesquisa e extensão acrescentam preocupações por conta dos
desafios e riscos da economia digital.
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